Título: Protecionismo menor deve facilitar acordo entre Mercosul e Canadá
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 11/04/2005, Brasil, p. A2

O Mercosul e o Canadá estão avançando nas negociações para um acordo de livre comércio. Depois de uma reunião preliminar em Ottawa, no Canadá, os principais negociadores terão novo encontro em maio na cidade de Assunção, no Paraguai. Será a primeira reunião com troca de ofertas. O bloco do Cone Sul proporá iniciar as conversas com pedidos de liberalização comercial e já deve levar pronta uma lista. O setor privado brasileiro entregou ao governo a sua proposta e pede a abertura de setores protegidos, como frango, açúcar, carne bovina e têxteis. Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai também solicitarão aos canadenses maior abertura em serviços e investimentos, que, em conjunto com bens agrícolas e industriais, formam os três pilares da negociação. Os investimentos brasileiros no Canadá chegam a US$ 1 bilhão com a presença de empresas de peso, como Votorantim, Gerdau e Ambev. Segundo o diretor do departamento de negociações internacionais do Itamaraty, Regis Arslanian, o Brasil está disposto a fazer ofertas em serviços financeiros e telecomunicações similares às da negociação com a União Européia, "desde que haja contrapartida". O interesse dos países do Mercosul e do Canadá é fechar um acordo "rápido", mas sem sacrificar conteúdo. "Não antecipamos muitos problemas", diz o chefe da divisão de Alca do Itamaraty, Tovar da Silva Nunes. Segundo ele, essa é uma negociação de acesso a mercados e não deve haver pressão por maior abertura em propriedade intelectual - um dos impasses na Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Por exigência dos canadenses, a negociação acontecerá no âmbito da Alca. Como se trata de uma negociação mais simples, deverá ser concluída antes do acordo continental, que está travado. Isso não significa que as concessões feitas pelo Brasil ao Canadá serão estendidas ao restante do hemisfério. "A Alca prevê negociação bilateral de acesso. Não tem nada de contrário à Alca na negociação com o Canadá", diz Arslanian. Um acordo com o Canadá poderia aplacar as críticas do setor privado à política comercial do governo, acusada de focar suas atenções em países do Terceiro Mundo. Empresários dos setores industrial e agrícola receberam bem a iniciativa. Eles lembram, porém, que o intercâmbio entre Canadá e Brasil é pequeno. Em 2004, o Brasil exportou US$ 1,2 bilhão para o Canadá e importou US$ 866 milhões. Para os EUA, foram embarcados US$ 20,3 bilhões no período. Como é típico em qualquer negociação, os primeiros pedidos devem ser bastante agressivos. Na área agrícola, o Brasil preparou uma lista de 300 produtos, incluindo carnes e frutas, para os quais quer tarifa zero logo após o início da vigência do acordo. Segundo André Nassar, diretor-executivo do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), "a agroindústria tem interesse em um acordo amplo com o Canadá, que inclua setores sensíveis como carne de frango, carne bovina e açúcar". Os canadenses aplicaram tarifa de 238,3% para a carne de frango exportada fora de uma cota anual de 69 mil toneladas. A maior parte desse volume é atendida pelos EUA, sócios do Canadá no Nafta. Para a carne bovina, a tarifa de importação canadense é de 26,4%, mas falta um acordo sanitário. O Canadá cobra tarifa de 27,7 dólares canadenses para a importação de açúcar, taxa equivalente a 70%. No entanto, incluiu uma quantidade do produto brasileiro no Sistema Geral de Preferências (SGP), que permite redução da tarifa. Na área industrial, o Canadá possui uma tarifa média baixa, entre 3% a 4%. Mas alguns produtos são considerados sensíveis, como os têxteis.