Título: Lula pede a Camarões para contratar empresas brasileiras
Autor: Sergio Leo De Yaundê
Fonte: Valor Econômico, 11/04/2005, Brasil, p. A2

Começou tímida do ponto de vista econômico e bem sucedida politicamente a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a cinco países do litoral ocidental da África. Apenas sete, de quase 30 empresários convidados, acompanham a comitiva do presidente, que saudou ontem o presidente do Camarões, Paul Biya, com um discurso no qual defendeu a contratação das empreiteiras brasileiras nas obras de infra-estrutura do país. No discurso de saudação a Lula, em jantar no palácio do governo, Biya disse que apóia a pretensão brasileira de um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. "Nossas economias são complementares", disse Lula, lembrando que o Brasil exporta muitos dos produtos, como automóveis, que Camarões costuma importar de outros países. O baixo volume de comércio entre os dois países (US$ 30 milhões) faz com que, embora Camarões importe do Brasil produtos siderúrgicos, pedaços de frango e automóveis, as trocas se dêem principalmente por meio de tradings (grandes empresas comerciais) e só uma grande empresa brasileira, a Andrade Gutierrez, tenha representantes no país. A experiência da Andrade Gutierrez ilustra bem as dificuldades das empresas brasileiras em vários países da África: uma das últimas obras em Camarões, prevista para durar dois anos, demorou dez, devido às dificuldades orçamentárias do governo. Atualmente, a empresa se encarrega de uma estrada, sobre uma encosta íngreme entre as cidades de Dschang e Melong, ao custo de 22 milhões de euros, em associação com uma empresa grega. O ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, minimizou os problemas de inadimplência de contratos ("não é geral", comentou) e disse que a renovação política e econômica na África já permite o aumento dos negócios entre o Brasil e países como África do Sul e Gana - este último uma das etapas da visita de Lula ao continente. Assumindo o papel de promotor dos interesses do país, Lula fez questão de defender a contratação de empresas brasileiras, ao falar do potencial de aproximação econômica entre os dois países. "Um poderoso impulso pode vir de uma retomada na atuação de empresas de engenharia brasileiras na construção da infra-estrutura de energia e transportes de Camarões." Esperados na comitiva de Lula, representantes da Associação Nacional de Veículos Automotores (Anfavea) e da Embraer, entre outros, desistiram. As dificuldades de locomoção na África e falta de lugares no avião reserva presidencial desencorajaram muitos, segundo argumentou o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan. A dificuldade de acesso entre os dois países motivou um dos acordos que Lula assinará na África, para criação de linhas aéreas entre Brasil e Gana. Contente com a decisão brasileira de reabrir a embaixada do Brasil em Yaundê, fechada desde 1999, Biya apoiou a política de "cooperação Sul-Sul", defendida pelo governo Lula. Lula parte hoje para a etapa mais importante da viagem, a Nigéria. O Brasil tem um comércio de quase US$ 4 bilhões com o país, US$ 3 bilhões dos quais em importação de petróleo. O governo quer convencer a Nigéria a comprar mais produtos brasileiros.