Título: Analistas estão mais pessimistas com cenário da inflação deste ano
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 11/04/2005, Brasil, p. A6

A alta do IPCA de março, que bateu em 0,61%, acima das expectativas do mercado, está levando analistas de bancos e consultorias a rever as projeções de inflação para este ano, de 6% para 6,5% a 6,6%. Também colaborou para essa atitude o resultado da primeira prévia do IGP-M de abril, que subiu 0,67%, impulsionado pelos preços no atacado dos produtos agrícolas, devido à alta de algumas commodities. Assim, a taxa esperada para os IGPs, no ano, também foi revisada, de 6,1% para 7% a 7,5%. O IPCA do primeiro trimestre acumulou 1,79% - quase um terço da inflação de 5,5% projetada pelo Banco Central no último relatório de inflação para 2005. O segundo trimestre será mais alto. Os economistas já trabalham com uma taxa acumulada mais elevada, entre 1,9% e 2%, dependendo se a Petrobras reajustar em junho os preços dos derivados, como prevê Carlos Thadeu Filho, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele trabalha com uma alta de 10% para os derivados do petróleo na refinaria e 5% na bomba. Elson Teles, do Fides Asset Management, desenha um cenário de preços pressionado principalmente pelos administrados, no período entre abril e junho. Além do risco da alta dos derivados, já estão certos aumentos nas tarifas de energia elétrica, de ônibus, de táxi e de telefonia. Na sexta-feira, a Aneel aprovou um aumento de mais de 18% na tarifa residencial da Cemig, distribuidora mineira. Espera-se reajustes nas tarifas da Celpe (Pernambuco) acima de 20% para o final de abril. Também estão nesta fila a Coelba e a Coelce, distribuidoras da Bahia e de Ceará e a RGE do Rio Grande do Sul. "A energia elétrica vai voltar a impactar a inflação, depois de ter quase zerado no índice", observou Teles. Outros reajustes estão em curso. A partir de hoje estão mais caros os ônibus do Rio, cujas tarifas subiram 12,5%, passando de R$ 1,60 para R$ 1,80. Ainda há resíduos da alta dos ônibus de São Paulo e Porto Alegre para a inflação de abril, que poderá alcançar 0,70% (IPCA). Essas tarifas de ônibus contribuíram com 0,25 ponto percentual para o IPCA de março. A ligação de telefone fixo para móvel vai aumentar também em 7,99% após dois meses de atraso. O ambiente da inflação está pouco animador, apesar dos núcleos serem menores, de 0,51% na média (6,30% no ano). O quadro se tornou pouco animador e ameaçado por choques de oferta que combinam o comportamento volátil do petróleo, alta da nafta, estiagem, alta de commodities agrícolas, minerais e metálicas, como o minério de ferro, que impactam alimentos e preços industriais. Por isso, o mercado financeiro recebeu os índices de inflação divulgados na sexta-feira com muito mau humor. O juro futuro chegou a disparar de 19,34% para 19,51% no DI de janeiro/2006. Muitas apostas em nova alta de 50 pontos básicos para a Selic na reunião do Copom, em abril. A preocupação de bancos e consultorias está toda voltada para o Banco Central, pois é difícil saber como a autoridade monetária vai trabalhar para acomodar esse choque de oferta, explica Elson Teles. Carlos Thadeu Filho calcula que o choque de oferta vá aumentar em 1,1 ponto percentual a inflação projetada pelo BC de 5,5% para este ano, ou seja, 6,6%. Com isto, o IPCA passaria a transitar na faixa de tolerância mais alta da meta. Os sinais dados pelo mercado estão com "viés negativo", avisa Teles. Mas, ele prefere ser otimista. "Há muitas incertezas no cenário externo e o mercado está meio dividido com relação ao próximo passo da autoridade monetária. Mas, acredito que o comportamento do câmbio e a desaceleração pelo segundo mês consecutivo da atividade econômica possa vir a pesar favoravelmente na próxima decisão do Copom." Na última ata de março, o Copom acenava com uma mudança de comportamento. A autoridade monetária passaria a levar mais em conta a meta futura de inflação dos próximos 12 a 18 meses. "Se isto for mantido, as perspectivas de uma estabilidade na Selic a partir de abril podem ser mais concretas, avalia Teles. O receio do mercado, porém, é de que ao constatar que a inflação está saltando dos 5,5% projetados para a banda alta de tolerância da meta, perto de 7%, o BC opte por turbinar o juro básico. "Só essa hipótese já deixa os agentes econômicos à beira de um ataque de nervos", disse Thadeu Filho. Ele espera uma Selic de 18,50% para o fim do ano.