Título: Documento dos moderados do PT defende política econômica
Autor: Vera Saavedra Durão e Janaina Vilella
Fonte: Valor Econômico, 11/04/2005, Política, p. A8

O presidente do PT, José Genoino, foi indicado ontem por aclamação de quase 200 membros do campo majoritário do partido candidato à reeleição ao cargo nas eleições de 18 de setembro. Durante o último dia de encontro dos moderados da sigla, no Rio, Genoino disse que a palavra de ordem do PT durante o processo de eleição direta será "unidade como consequência do debate". A idéia é mobilizar os militantes petistas em torno de um programa que sirva de base para um projeto de país, "mas sem precipitar o debate sucessório para 2006". A tarefa parece hercúlea, pois a discussão sobre a sucessão em vários níveis e alianças, com destaque para o aliado principal o PMDB, está na ordem do dia. Deputados do PT de Alagoas defenderam a candidatura do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) para governar o Estado e muitos apóiam um vice do PMDB para ganhar já no primeiro turno. Na convenção, da qual participaram os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e da Casa Civil, José Dirceu, foi aprovado o documento "Bases de um projeto para o Brasil", que incorpora diretrizes da política econômica ao ideário do PT. O texto teve apoio unânime dos presentes - com exceção do senador Eduardo Suplicy (SP), que pediu para colocar uma emenda de renda básica da população - e poderá servir de base para o programa do partido nas eleições. O documento ressalta as principais conquistas do governo Lula apontando para as condições econômica em que o país se encontrava em 2002 e os avanços obtidos e fazendo duras críticas ao governo anterior, de Fernando Henrique Cardoso. "O governo FHC, com exceção da relativa estabilidade de preços - ainda assim sujeita a freqüentes sobressaltos - não só não contribuiu ao progresso social, como aprofundou as debilidades estruturais e restrições ao nosso desenvolvimento. O país tornou-se muito mais vulnerável e dependente do capital externo". Partindo deste mote, o campo majoritário defende a política econômica de Palocci, buscando harmonizá-la com a defesa de um papel mais amplo do Estado na economia e do investimento público em infra-estrutura para o país retomar o desenvolvimento, posições do ministro Dirceu. A política fiscal é resguardada no texto. "Para o PT, a busca do equilíbrio fiscal e do crescimento sustentado, com recuperação do emprego e distribuição de renda - objetivos centrais do programa do partido - não são incompatíveis e constituem um processo independente." Em contrapartida, o documento pede "um alívio para o política monetária", e frisa que "a redução do endividamento público - assim como a redução da taxa de juros - é essencial". No sábado, o ministro Dirceu, defendeu a política econômica e disse que foi ela que "possibilitou que o Brasil voltasse a crescer, retomasse a credibilidade interna, voltasse a ser um país com crédito, criou empregos. Não vejo porque a política econômica tem qualquer incompatibilidade com os preceitos do PT". O texto dos moderados do PT não toca na questão da autonomia do Banco Central e pede a redução da carga tributária para níveis aceitáveis. "Nosso governo, que se comprometeu e vem cumprindo o compromisso de não elevar a carga tributária acima do que a registrada em 2002, deve buscar a redução da mesma ante o nível de 2002". Na avaliação de alguns parlamentares presentes, o documento dificilmente vai unir o PT. Tendências à esquerda não vão engolir a defesa da política econômica. O deputado Miro Teixeira (PT-RJ) aproveitou o encontro para lançar a candidatura de Wladimir Palmeira ao governo do Rio.