Título: Partido teme perda de apoio do PMDB para reeleição
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 11/04/2005, Política, p. A8

A pressão pela saída do pemedebista Romero Jucá do Ministério da Previdência Social poderá desencadear uma guerra entre PT e PMDB, tornando remota a possibilidade dos dois partidos fecharem uma aliança para a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no próximo ano. Essa perspectiva já preocupa integrantes do governo, depois que o ex-presidente da Câmara, deputado João Paulo Cunha (PT-SP), ligado ao ministro da Casa Civil, José Dirceu, cobrou explicações de Jucá pela imprensa. A pressão sobre Jucá partindo do PT ocorre em um momento em que, pela primeira vez desde 2002, o governo federal conseguiu estabelecer pontes com todas as alas que disputam o comando pemedebista, com exceção da seção fluminense do partido. Lula esteve recentemente com o presidente da sigla, deputado Michel Temer (SP) e com o ex-governador de São Paulo, Orestes Quércia, ao mesmo tempo que mantêm próximo de si o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL) e o ex-presidente e senador José Sarney (AP). O contra-ataque pemedebista, temido no Planalto, seria a ressurreição do caso Waldomiro Diniz, o que atingiria José Dirceu, ou novos questionamentos sobre os assessores do ministro da Saúde, Humberto Costa, que foram demitidos por suspeitas de irregularidades no passado. Mesmo que a investida se dê apenas no plano verbal, desencadearia uma tréplica petista e iria alienar da esfera governista até mesmo a ala do partido fiel a Lula desde a campanha. Na avaliação dos defensores da permanência de Jucá no ministério, o ministro da Previdência estaria vivendo uma situação análoga a que atingiu, no começo de 2003, os ministros do Turismo, Walfrido Mares Guia, e dos Transportes, Anderson Adauto. Mares Guia foi alvo de notícias que o apontavam como envolvido com uma modelo assassinada. Nada se provou contra ele e o petebista continua no cargo até hoje. Adauto foi alvo de denúncias de irregularidades quando ocupou uma prefeitura no interior de Minas. Também defendeu-se no cargo e ficou no ministério até o início de 2004. Segundo um aliado do presidente, a coligação com o PMDB é essencial para a vitória de Lula ainda no primeiro turno em 2006, algo pouco provável no cenário que desenha hoje para a eleição no próximo ano, segundo este integrante do governo reconhece. Para este interlocutor de Lula, o prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), está se firmando como candidato em seu partido, e um sinal neste sentido foi o recente seminário pefelista em Brasília, onde os aliados de Maia demarcaram diferenças em relação aos tucanos, parceiros na condição de oposicionistas. Não se acredita mais no governo na possibilidade de demover o ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, de participar da disputa. Como Garotinho não deve obter a legenda pemedebista, a expectativa é que ele troque de partido. Com três candidaturas de oposição razoavelmente fortes, o segundo turno se torna uma hipótese mais provável. O contraponto a este cenário preocupante, segundo afirmou este integrante do governo, são os sinais de desunião que começam a ser detectados no PSDB. Em sua passagem por Brasília na semana passada, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso demonstrou que quer trabalhar com uma possível candidatura à Presidência em seu leque de opções para 2006. O movimento do ex-presidente agradou o Planalto. A permanência de Fernando Henrique no quadro de possíveis candidatos paralisa os movimentos do prefeito de São Paulo, José Serra, e do governador do Estado, Geraldo Alckmin, segundo avalia este auxiliar de Lula. Tenderia ainda a reanimar o conflito entre a ala cearense do partido com a ala paulista.