Título: Para presidente, recuo da Shell foi 'vitória do povo'
Autor: Paulo Braga
Fonte: Valor Econômico, 11/04/2005, Especial, p. A12

O presidente argentino, Néstor Kirchner, qualificou como "uma clara vitória do povo argentino" a decisão tomada pelas petroleiras Shell e Esso, que decidiram reduzir o preço dos combustíveis após serem pressionadas pelo governo. "Se em todos os pontos as pessoas tomarem essa atitude, se vai ganhar a batalha da justiça e da defesa do poder aquisitivo dos trabalhadores", disse. O pedido de boicote foi feito há cerca de um mês, após surgirem sinais de alta da inflação. O índice de março atingiu 1,5%, e no trimestre 4,05%. Analistas acreditam que a taxa de 2005 será de pelo menos 10%. A decisão de reduzir o preço da gasolina foi anunciada na semana passada pela Shell e a Esso reduziu os valores cobrados pelo diesel. A Shell justificou a atitude como forma de "amenizar a queda nas vendas". No início do boicote, donos de postos disseram que o movimento caiu 70%. Já a Esso decidiu baixar o preço do diesel para importar o produto pagando menos imposto. Há duas semanas, o governo reduziu o imposto cobrado sobre importações de diesel, mas condicionou o benefício à revogação do aumento, exigindo das empresas o compromisso de não aumentar o diesel em seis meses. Neste período do ano a Argentina tem de importar o produto pois a produção não é suficiente para atender à demanda, que aumenta devido à colheita de grãos. Com a queda nas vendas, a Shell não precisará recorrer ao diesel importado e resolveu não reduzir o preço do combustível. Além disso, a empresa escapa da obrigatoriedade de manter os valores do combustível congelado por seis meses, evitando ampliar perdas caso o petróleo continue subindo.