Título: Seca irá afetar a produção de semente de soja modificada
Autor: Cibelle Bouças
Fonte: Valor Econômico, 11/04/2005, Agronegócios, p. B10

No primeiro ano de produção legal de sementes de soja transgênica com fins comerciais no país, após a aprovação da Lei de Biossegurança (Lei 11.105), a oferta pelas indústrias ficará longe do esperado. Depois de negociar por sete anos com o governo a liberação para produzir e vender sementes geneticamente modificadas, o setor enfrenta um novo adversário: a estiagem. Segundo a Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), a previsão inicial de produzir 5 milhões de sacas para a safra 2005/06 deve cair pelo menos 30%, para 3,5 milhões de sacas. O volume inicial seria suficiente para plantar 5 milhões de hectares - aproximadamente a mesma área ocupada com soja transgênica - ilegal - na safra 2004/05. Com a quebra, o volume será suficiente para atender 3,5 milhões de hectares, quando a previsão é que o plantio supere 6 milhões de hectares, segundo estimativa da Céleres. "A adoção da soja transgênica vai crescer principalmente no Centro-Oeste e na Bahia, e a perspectiva é chegar a 60% da área total de soja em dois anos", diz Anderson Galvão, sócio-diretor da consultoria. Ele observa que as indústrias de sementes não têm condição de atender a essa demanda hoje. A Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola (Coodetec), que deve responder por 70% da oferta de semente de soja transgênica, estima perda próxima a 40% em sua produção em função da estiagem, somando 2,1 milhões de sacas. A Embrapa, que ofertará 20% do volume total, também prevê perdas de até 38%, passando de 1,3 milhão para 800 mil sacas de sementes. O restante da oferta será fornecida pela Pioneer, Fundação Centro de Experimentação e Pesquisa (Fundacep) e Fundação de Amparo à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT). Essas cinco empresas, que já tinham registro do Ministério da Agricultura para multiplicar sementes desenvolvidas com a tecnologia Roundup Ready da Monsanto, fizeram acordo para multiplicar as 200 mil sacas da safra 2003/04 nas esperadas 5 milhões de sacas para este ciclo. Ivo Carraro, diretor-executivo da Coodetec, e José Roberto Perez, gerente geral da Embrapa Transferência de Tecnologia, dizem que as indústrias estão fazendo esforços, com o plantio da semente na safra de inverno, para garantir a oferta e evitar o plantio de semente contrabandeada da Argentina. Patrícia Fukuma, sócio da Fukuma Advogados, observa que a lei permite que os produtores ainda façam a reprodução caseira das sementes utilizadas na safra 2004/05. "As empresas devem sofrer forte concorrência das sementes ilegais e caseiras", diz Iwao Miyamoto, presidente da Abrasem. Carraro, da Coodetec, observa que os produtores serão totalmente dependentes da tecnologia da Monsanto no curto prazo. Ele observa que as indústrias buscam obter o registro de sementes com tecnologia diferente da Roundup Ready. Esses produtos, segundo ele, devem chegar ao mercado em até dois anos.