Título: Empate em eleição mostra profunda divisão na OEA
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 12/04/2005, Internacional, p. A11

A eleição para secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) foi adiada para 2 de maio, depois de uma série surpreendente de 5 votações que terminaram em empate (17 votos a 17) entre os dois candidatos ao cargo, o ministro do Interior do Chile, Jose Miguel Insulza, e o ministro das Relações Exteriores do México, Luís Ernesto Derbez. A Secretaria-Geral está vaga há seis meses. Os dois disputam o cargo depois da desistência de Francisco Flores, ex-presidente de El Salvador que era apoiado pelos EUA. Com a saída de Flores da disputa, os EUA passaram a apoiar o candidato mexicano. As eleições deste ano são as mais disputadas desde 1975, quando o argentino Alejandro Orfila ganhou por um voto depois de sete rodadas de votação. As primeiras três votações ocorreram pela manhã. Depois de um recesso de duas horas para consultas entre os países, outras duas votações tiveram o mesmo resultado. Os representantes dos 34 países do continente com direito a voto (Cuba está suspensa) reuniram-se a portas fechadas depois da quinta votação. Os EUA, que enviaram à assembléia o subsecretário de Estado para a América Latina, Roger Noriega, pediram que se fizesse uma nova votação- criando especulações de que teriam conseguido mais uma adesão para o candidato mexicano. O pedido foi rejeitado. O persistente empate surpreendeu os diplomatas presentes. Antes da votação, o Chile afirmava ter garantido 19 votos, e o México falava ter 25 votos. O Brasil apóia o chileno Insulza, para tentar trazer de volta à América do Sul a Presidência da organização. Junto com o Brasil votaram Argentina, Paraguai, Venezuela e Uruguai. A Bolívia foi um dos poucos países da América do Sul a votar no México, devido ao conflito diplomático com o Chile. Insulza é um político de expressão no Chile e motivou uma ofensiva diplomático do presidente Ricardo Lagos em apoio à sua candidatura. Em entrevista ao jornal "Financial Times", Lagos disse que o Chile quer que a OEA seja mais ativa e que discuta assuntos como negociações comerciais e a situação no Haiti. "Estamos otimistas. Vamos ganhar no final", disse Insulza à rádio chilena Cooperativa. O México recebeu o apoio de parte dos países do Caribe (que representam no total 14 votos), a maior parte dos votos da América Central, além de EUA e Canadá. O voto é secreto, portanto não é possível saber com exatidão o apoio a cada um dos candidatos. Luís Ernesto Derbez presidiu a fracassada reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Cancún. O secretário-geral interino da OEA, o americano Luigi Einaudi, que assumiu depois da renúncia do costa-riquenho Miguel Ángel Rodríguez, lamentou o resultado por ele atrasar as reformas na organização. O subsecretário do Itamaraty para a América do Sul, Luiz Filipe de Macedo Soares, diz que o empate "é ruim porque mantém o lugar vago. A organização se ressente porque já não está numa situação financeira confortável". Rodríguez, que ficou no cargo por apenas dois meses, chegou a anunciar uma ampla reforma da OEA assim que assumiu, cortando diretorias e fazendo demissões. Mas pouco depois renunciou e voltou à Costa Rica para responder a um processo por corrupção. Ele está preso no país. Desde então, a reforma está parada. A OEA tem um orçamento de US$ 152 milhões para este ano, e fechou 2004 com déficit de US$ 500 mil. A OEA perdeu influência na América Latina nos últimos três anos, após atuação polêmica do ex-secretário-geral César Gaviria na crise política na Venezuela. O presidente venezuelano, Hugo Chávez, o acusou de apoiar a oposição no país e rejeitou a mediação da OEA. O Brasil criou então um "grupo de amigos" da Venezuela para mediar a crise, ao qual aderiram mais tarde os EUA. Recentemente, os países da região não recorreram à OEA para mediar o conflito diplomático entre a Colômbia e a Venezuela, e a organização não se envolveu na turbulência na Bolívia, que resultou na mudança de governo.