Título: Moradores de área rural reclamam da falta de informações sobre os projetos
Autor: Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 12/04/2005, Empresas &, p. B6

As comunidades das áreas a serem afetadas pela implantação da usina siderúrgica de São Luís, no Maranhão, reclamam da falta de informações e de transparência por parte dos governos (estadual e municipal) e dos sócios do empreendimento, sobretudo a Cia. Vale do Rio Doce (CVRD). "Seria interessante que o governo e os sócios explicassem o projeto, o que até agora não ocorreu", diz Lamartine Acioly, presidente da Associação Comunitária de Itaqui-Bacanga, área que envolve cinco micro-regiões onde moram 200 mil pessoas. Natural de Recife (PE), Acioly tem 62 anos e é morador de Vila Conceição há 15. Vila Conceição, um dos bairros mais antigos de São Luís, faz parte da área de 4.426 hectares destinada à criação de um sub-distrito siderúrgico dentro do distrito industrial de São Luís, onde seriam instaladas três usinas siderúrgicas e duas guserias. Da área total, mil hectares estão reservados à instalação do projeto da Vale com a Baosteel e Arcelor, que implicaria na remoção de 611 famílias. Essa área envolve comunidades como Bom Jesus do Cajual e Vila Conceição. O plano do governo do Estado é transferir essas pessoas para a localidade de Tinaí, na ilha de São Luís, onde seria construído um bairro com posto médico, escola e delegacia. Esse bairro teria espaço reservado para receber pessoas das outras comunidades, como Vila Maranhão, cuja área foi reservada pelo governo do Estado para outros dois projetos siderúrgicos, um dos quais envolveria a Vale e a sul-coreana Posco. Os movimentos sociais estimam que, com a instalação das três usinas, cerca de 15 mil pessoas seriam transferidas de seus endereços atuais. No segundo semestre do ano passado, funcionários da empresa Diagonal Urbana, contratada pela Vale para fazer o cadastramento da população afetada pelo sub-distrito siderúrgico, estiveram em Vila Maranhão. Marcaram as casas e informaram a população da desapropriação da área. Depois, técnicos da Diagonal voltaram e informaram que o processo estava suspenso. A ação criou antipatia em relação ao governo (estadual e municipal), pois gerou incerteza em relação ao que acontecerá no futuro. Vila Maranhão, que tem uma igreja e um cemitério tombados, está dividido entre pessoas favoráveis e contrárias ao projeto. Acioly, que mora em um sítio de um hectare onde planta apenas para subsistência, cria galinhas e produz doces, está entre os favoráveis. Mas não longe dali, no bairro de Rio dos Cachorros, a resistência é maior. "75% das famílias daqui não querem sair", diz Maria Máxima Pires, líder comunitária e dona de áreas de mineração de areia. "A Vale não deu a cara pra gente em nenhum momento", endossa Alberto Cantanhêde Lopes, pescador e líder comunitário no bairro do Taim, outro dos afetados. Esses bairros são hoje zonas rurais de São Luís, cujo prefeito, Tadeu Palácio (PDT), deverá encaminhar projeto à Câmara de Vereadores mudando a lei de zoneamento e uso do solo urbano do município. A medida permitirá transformar a área rural em zona industrial, abrindo espaço para a implantação das siderúrgicas. Até agora três audiências públicas sobre o tema foram realizadas e a Câmara ainda realizará outra. Todas ocorreram em clima de muita emoção. (FG) O repórter viajou a convite da Emap