Título: Para Lula, reeleição é decisão do povo
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 13/04/2005, Política, p. A8

"O povo é quem decide", comentou ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao aceitar falar de um assunto de política interna pela primeira vez durante sua visita a cinco países da África, iniciada no domingo. Durante entrevista ao lado do presidente da Nigéria, Olusegun Obasanjo, Lula, que vinha se recusando a comentar assuntos internos, respondeu, porém, a uma pergunta sobre sua política externa, formulada de maneira a tratar também da reeleição. Lula foi lembrado de que fazia muitas críticas ao antecessor, Fernando Henrique Cardoso, pelo grande número de viagens, e lhe perguntaram se considerava um mandato suficiente para todas as viagens que pretende fazer. Sorridente, o presidente afirmou que o Brasil "ganhou importância", e que as relações humanas são "insubstituíveis" na política externa. Mas disse que no próximo ano, fará apenas viagens dentro do Brasil. "Política não se faz via fax, nem por telefone ou Internet", disse. "É olho no olho, como dizem no Brasil: tete a tete", acrescentou, fazendo uma brincadeira com uma conhecida expressão francesa, que o tradutor verteu para o inglês como "face to face (cara a cara)". Foi endossado pelo presidente Obasanjo. "Não há substituto para o sentimento de relacionamento pessoal, agora Lula não é apenas um rosto para mim", disse o nigeriano. "É alguém que já consegui sentir de perto, alguém de quem gosto". Na etapa seguinte da viagem, à tarde, em Gana, considerado o países mais bem sucedido economicamente na África Ocidental, Lula teve uma acolhida ainda mais calorosa. O presidente do país, John Agyekum Kufuor, defendeu que o Brasil use Gana como porta de entrada para aquela porção da África."A África precisa de parceiros, e o Brasil está altamente qualificado para se juntar", discursou Kufuor, ao recepcionar o presidente. Lula agradeceu pela herança cultural, do "samba" e da "famosa feijoada". Em Gana, Lula recebeu até título de rei honorário, ao se reunir com a comunidade dos "Tabom", descendentes de ex-escravos retornados do Brasil, que ganharam o nome devido ao som, estranho para os africanos, da repetida afirmação "tá bom", que os então recém-chegados diziam com freqüência. O presidente ganhou vestimentas típicas, em uma festa na qual os ministros das Relações Exteriores, Celso Amorim, também em traje típico, e da Cultura, Gilberto Gil, de terno, dançaram com os Tabom, ao som de atabaques e cornetas tribais.