Título: Garotinho descarta aliança com o PT
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 13/04/2005, Política, p. A8

O governo tem um prazo até outubro deste ano para tentar estreitar as negociações em torno da aliança com o PMDB para a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A partir desta data o partido inicia o processo das primárias, com apresentação dos pré-candidatos à Presidência da República. Ontem, em Brasília, o ex-governador Anthony Garotinho descartou categoricamente uma aliança nacional com o PT em 2006, mas afirmou que não é "sectário" e aceitará - se convidado - discutir o assunto com o presidente Lula. Garotinho visitou ontem o presidente do Senado, Renan Calheiros. O ex-governador, que por enquanto permanece pré-candidato à Presidência, disse que é válida a tentativa de Lula de reaproximar-se das alas oposicionista e independente do PMDB. Lula, segundo ele, cometeu equívocos que podem ser superados. A rusga do PMDB com o governo, analisou, poderia ter sido evitada se o presidente buscasse um diálogo com o partido pelas vias institucionais, ou seja, por meio da direção nacional. "O equívoco foi ter feito uma linha de atalho. Se desde o início a direção partidária tivesse sido ouvida, nada disso teria acontecido. Mas ainda há tempo", sentenciou o ex-governador. "O presidente é um agente político da maior importância, o principal do país. E reconhece, ao procurar conversar com as lideranças do PMDB, que o partido é importante na sustentação tanto na Câmara quanto no Senado", acrescentou Garotinho. Segundo o ex-governador, seria no mínimo indelicado rejeitar um convite de Lula para uma conversa. "Eu sou uma pessoa educada. Claro que vou atender a um convite do presidente", disse, acrescentando que o sim é para o convite, mas, para a aliança a resposta é não. "Acho que o PMDB terá candidato próprio à Presidência da República e terá candidatos fortes em todos os Estados da federação", enfatizou. Ele ressaltou que só tomou conhecimento da intenção de Lula de convidá-lo para uma conversa pela imprensa. Num gesto de reaproximação com o grupo político ligado a Renan Calheiros, fortalecido com a eleição à presidência do Senado, Garotinho também deu sinais de trégua. "O PMDB vai chegar unido para 2006. Tenho certeza disso. Por isso todos trabalham, mesmo cada um com uma visão diferente. O PMDB chegará unido, e creio com muita convicção que em torno de um candidato que defenda os ideais do partido", disse o ex-governador. "O PMDB velho de guerra sempre demonstra unidade na pluralidade", brincou o presidente do Senado. Calheiros disse que, institucionalmente, é obrigado a defender as demandas do Rio de Janeiro e o fará. O presidente do Senado pretende ainda intermediar conversas dos ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e da Casa Civil, José Dirceu, com a governadora Rosinha Matheus. Garotinho e Renan Calheiros discutiram, ainda, uma estratégia para amenizar o clima do PMDB na Câmara. Ficou acertado que o líder definitivo do partido na Casa deve ser escolhido em três meses, num processo negociado com todas as correntes. "Garotinho vê nessa proposta um caminho para a negociação", relatou Calheiros. Garotinho chegou a Brasília ontem acompanhado do ex-presidente do BNDES, Carlos Lessa. O economista assumiu o compromisso de entregar, em 30 dias, ao partido, um programa de governo. Lessa reuniu-se ontem com Temer, em Brasília. A partir de maio, o PMDB começa um processo de recadastramento de todos os seus filiados, que termina em setembro. De outubro a abril de 2006 está previsto o processo das primárias.