Título: PMDB rejeita indicado de Dilma para a ANP
Autor: Henrique Gomes Batista, Raymundo Costa e Maria Lúc
Fonte: Valor Econômico, 13/04/2005, Política, p. A10

Em dois movimentos simultâneos realizados ontem, o PMDB do Senado aprofundou e expôs uma crise nas relações do partido com o governo, até então contida aos bastidores. A falta de preenchimento de cargos federais reivindicados pelos pemedebistas, o desgaste imposto à senadora Roseana Sarney (PFL-MA), convidada, mas não nomeada para o ministério, e o "fogo amigo" do PT contra o ministro Romero Jucá (Previdência Social) estão na origem da crise. No primeiro movimento, o PMDB, articulado pelo líder Ney Suassuna (PB) e pelo senador Valdir Raupp (RO), rejeitou, por 12 votos a 11, na Comissão de Infra-Estrutura do Senado, a indicação de José Fantini para a diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP). O indicado para a outra diretoria vaga na agência, Vitor Martins, foi aprovado por 20 a 3. Paralelamente, foram recolhidas assinaturas de apoio da bancada a Jucá. Dos 23 senadores, 21 assinaram. Ficaram de fora Pedro Simon (RS) e Gerson Camata (ES). Em junho de 2003, o PMDB também comandou a rejeição de Luiz Alfredo Salomão para a ANP para enviar recado de insatisfação ao governo. Na época, o PMDB aproveitou-se de um problema pessoal do senador José Sarney (AP) com Salomão, que dez anos antes tentara a quebra do sigilo de Roseana, na CPI do Orçamento. Fantini não tem objeções pessoais na bancada do PMDB, o alvo era a ministra Dilma Rousseff (Minas e Energia). A sigla reivindicava uma diretoria da Eletronorte (o presidente da estatal já é indicação do senador Sarney), mas a ministra preferiu nomear um irmão do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que fora secretário de Finanças do ex-prefeito de Goiânia, Pedro Wilson (PT). A nomeação foi o elemento de combustão da bancada do PMDB no Senado, onde a sigla é vital para o governo formar maioria. Além da diretoria da Eletronorte, os pemedebistas esperam ainda por cargos prometidos no Banco do Nordeste, na Fundação dos Correios e na Infraero do Distrito Federal. Dilma Rousseff está na mira dos partidos aliados em geral. Alegando exercer um cargo técnico, a ministra não convida deputados para as viagens e só a muito custo concordou em ceder uma diretoria da Petrobras para o PP, a Petroquisa para o PTB e a Transpetro para o PMDB. "Os senadores do PMDB sentem-se no dever de refutar as acusações divulgadas (contra Jucá), por serem denúncias vazias não baseadas em nenhuma prova, ataques sobre antigas acusações de adversários políticos do seu Estado, já totalmente esclarecidos", diz a nota do PMDB. Para Suassuna, a bancada "não se conforma" com a execração pública de Jucá. Segundo ele, o ministro não pode ser condenado antes de a Procuradoria Geral da República analisar todo o material que ele apresentará em sua defesa. Como presidente do Senado, Renan Calheiros, que indicou Jucá, tentou por panos quentes na crise e disse que José Dirceu (Casa Civil) já declarou que o ministro tem a "confiança de Lula". Mas Renan também está insatisfeito com a relação PMDB-governo e a rede de intrigas que estaria sendo alimentada pelo PT para minar a aliança do partido com Lula em 2006. Criando constrangimento, o ex-governador Anthony Garotinho, que esteve ontem com Renan, disse que cabe a quem indica defender os indicados. "Esse é um assunto que cabe às pessoas que indicaram. Eu não indiquei, então não posso falar nada". Segundo Calheiros, nada nas denúncias é novo: o governo teve conhecimento prévio dos fatos . O PMDB também dá demonstrações de que o governo precisa mudar a articulação. "Continuamos sem interlocutores aqui. Há problemas de nomeações em todos os lados (as nomeações são atribuição da Casa Civil). No caso da ANP, queríamos derrotar a ministra Dilma (Minas e Energia), que tem adversários no Senado e hostilizou políticos de todos os partidos, inclusive do PT", admitiu um senador pemedebista. A situação de Fantini não está encerrada: sua indicação vai ser votada no plenário do Senado, porém com o parecer contrário da comissão. Essa solução, pouco usual, foi referendada pela mesa da Casa: " O entendimento da mesa é que é possível sim (a análise de indicação de nome rejeitado em comissão) " , afirmou Renan Calheiros.