Título: Mandelson lista Mercosul como 4ª prioridade da UE
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2004, Brasil, p. A-3

O futuro comissário de comércio da União Européia (UE), Peter Mandelson, praticamente admitiu ontem que a negociação UE-Mercosul acabará sendo feita por ele, depois que assumir dia 1º de novembro no lugar de Pascal Lamy. Mandelson qualificou de "inaceitável" a recente oferta do Mercosul para a UE e disse que já conversou com o ministro Celso Amorim sobre as negociações. Disse ainda que "esse importante projeto político e econômico" é uma de suas prioridades. A quarta, na verdade. O futuro comissário afirmou diplomaticamente aos membros do Parlamento Europeu, em Bruxelas, que ainda espera que Lamy feche o acordo. Caso contrário, vai continuar a negociação, embora ache que levará algum tempo até que ela seja retomada diante da oferta feita recentemente pelo bloco do Cone Sul. Mandelson salientou que está mais em busca de substância do que de rapidez para concluir as negociações. Em três horas de questionamento feito pelos deputados, ele não deu mostras de que vá atenuar suas demandas. Ao contrário, o sinal foi de que vai aumentá-las nas negociações internacionais, podendo causar mais dificuldades a futuros acordos. Mandelson defende normas sociais "mais elevadas" nos acordos comerciais, um tema rejeitado duramente pelo Brasil e outros emergentes. Ele citou uma idéia de "etiquetagem social". Para isso, quer a implementação do foro permanente entre a Organização Mundial de Comércio (OMC) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT), que até agora não saiu do papel por causa "da oposição do G-20" e de outros grupos. Além disso, parece claro que Mandelson já começa a se dobrar às pressões dos governos europeus para defender a Política Agrícola Comum (PAC), contra a posição do governo de Tony Blair, que o nomeou para a Comissão Européia. O futuro comissário entende que, hoje, a reforma da PAC é suficiente, e os outros países é que devem se esforçar para cortar subsídios. Indagado se concordava com estimativas de um calendário de 15 anos para eliminar os subsídios agrícolas, Mandelson foi prudente: "15 anos seria o máximo". O futuro comissário definiu as prioridades da política comercial européia, nesta ordem: a negociação na OMC, esperando que seja concluída em 2006; acordos com África, Caribe e Pacífico (ACP); relação com os EUA para desarmar potenciais conflitos que ameacem causar turbulências na economia mundial; negociação UE-Mercosul; relações com os grandes vizinhos, como Rússia e Ucrânia e, finalmente, com a China.