Título: Iraque procura fornecedores no Brasil
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2004, Brasil, p. A-4

Depois de 14 anos, missão oficial vem ao país para comprar alimentos, caminhões e aviões

Com o intuito de inserir o Brasil nos negócios da reconstrução do Iraque e ampliar o intercâmbio de relações comerciais, uma delegação oficial do governo iraquiano está em São Paulo para conhecer produtos brasileiros e iniciar negociações de parcerias com empresas do setor privado. É a primeira visita oficial em 14 anos. Até o momento nenhum contrato foi fechado, mas de acordo com um levantamento realizado pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Iraque - entidade que tem como objetivo intermediar e facilitar a relação entre exportadores e importadores - o volume de negócios entre os dois países poderia atingir US$ 6 bilhões até 2010. É muito mais que o volume atual, que nos oito primeiros meses do ano alcança apenas US$ 100 milhões. Entre janeiro e agosto deste ano, as exportações brasileiras para o Iraque somaram mais de US$ 60 milhões. Segundo a delegação, a expectativa é de que elas cheguem a US$ 100 milhões no fechamento de 2004. Neste período de reconstrução, o Iraque precisa de todo o tipo de produtos, desde alimentos até peças para automóveis e empresas que trabalhem com construção civil, afirma Abdul Hadi K. Abid, diretor-geral do Departamento de Desenvolvimento do Setor Privado do Ministério do Comércio Exterior. O diretor explica que o Iraque está em busca de produtos de qualidade e com os "melhores preços possíveis", por isso o interesse em fazer negócios com empresas brasileiras. "O Brasil tem preços muito competitivos", ressaltou. Por enquanto, na América Latina, a iniciativa de uma Câmara de Comércio só existe no Brasil, que é visto como um "país amigo e com grande potencial de negócios com o Iraque". Dentre os produtos que mais interessam ao governo iraquiano, Abid cita trigo, arroz, açúcar, chá preto, detergentes e outros produtos de limpeza, além de óleo de soja, sal, extrato de tomate, queijo, leite em pó e grãos variados. Questionado sobre os problemas de segurança no Iraque, o diretor amenizou a questão e disse que o governo iraquiano já aprovou uma lei de investimentos estrangeiros que dentre outros incentivos, oferece vantagens em impostos. Foto: Magdalena Gutierrez/Valor

Abdul Hadi Abid, diretor do Ministério do Comercio do Iraque, minimiza os problemas de segurança no seu país Apesar de admitir que o país foi bastante prejudicado e que precisa de um esforço concentrado para sua reconstrução, Abdul garante que a escassez de capital não preocupa. "Dinheiro é o menor dos problemas do país, porque temos reservas petrolíferas muito ricas". A Câmara de Comércio já tenta uma aproximação com empresas como Embraer, uma vez que o Iraque tem interesse em renovar sua frota de aviões, e montadoras como Scania e Volkswagen. Há também o interesse por empresas que queiram realizar empreendimentos voltados à construção civil e à infra-estrutura. "A tendência neste novo Iraque que estamos construindo é a livre concorrência entre as empresas". O governo, segundo Abid, pretende privatizar as empresas públicas e priorizar o investimento privado no país. Mas a reconstrução não é baseada somente em investimentos estrangeiros. Dos US$ 56 bilhões previstos para entrarem no país nos próximos três anos em empreendimentos ligados à infra-estrutura, cerca de US$ 32 bilhões são provenientes de doações, sendo US$ 18 bilhões fornecidos pelos Estados Unidos. No primeiro semestre do próximo ano, o governo iraquiano planeja a vinda de 50 empresários para estreitar relações com o Brasil, uma proposta que deverá ser posta em prática por meio de parceria com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). Negocia-se também a visita do ministro do Comércio do Iraque para acompanhar as negociações. Atualmente, a pauta de exportações brasileiras para o Iraque é diversificada e envolve desde açúcar e frango congelado a motores elétricos, tubos de aço para oleodutos e gasodutos e partes e acessórios de carrocerias para automóveis. "Damos uma importância fundamental ao comércio com o Brasil", enfatizou Aboud M. J. Altufaily, presidente da Confederação das Câmaras de Comércio Iraquianas. Qualquer país pode participar das licitações e das concorrências no Iraque. Basta seguir algumas condições básicas, lembra Abid. "As empresas precisam ser sérias e cumprir prazos de entrega, por exemplo". Além disso, o fabricante ou produtor deve participar diretamente da concorrência. Para isso, a empresa participante precisa adquirir um registro no Brasil legalizado pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Iraque. A exceção são os produtos não-industrializados como soja e outros grãos, que podem ser vendidos por meio de uma empresa intermediária, sem a necessidade de negociar de forma direta com o produtor. Também será necessário nomear um representante no Iraque para realizar os trâmites das negociações, pois a empresa deve se registrar no Ministério do Comércio do Iraque.