Título: PT é o mais votado e o 6º em prefeituras
Autor: César Felício e Ricardo Balthazar
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2004, Política, p. A-11

PMDB mantém-se como a legenda com o maior número de prefeituras e o PFL é o mais fragilizado

O PT tornou-se o partido mais votado do país em eleições municipais, depois da eleição de anteontem. A sigla recebeu 16, 3 milhões de votos, equivalente a 17, 2% do total válido, nos 5.562 municípios brasileiros. Elegeu 400 prefeitos, quase o dobro dos 204 que dispõe atualmente, com uma distribuição ainda concentrada nas grandes e médias cidades. Mais da metade dos votos foi obtida em colégios eleitorais acima de 150 mil eleitores. O PSDB também subiu, de 16% para 16,5% em sua participação no total de votos. Em relação aos últimos oito anos, o saldo do PT parece ainda mais expressivo. Nas eleições municipais de 1996, o partido teve menos da metade dos votos que conseguiu agora, o que representou apenas 10,7% dos sufrágios. Na disputa de 96, foi ao segundo turno em nove capitais e venceu em apenas duas. Agora, triunfou em seis capitais de Estado no primeiro turno e está disputando o segundo turno em outras nove capitais. O PFL foi o partido que saiu mais fragilizado da disputa. Recebeu 11,8% dos votos agora, ante 15,4% em 2000. Elegeu anteontem 790 prefeitos, face a 1.027 há quatro anos. O PMDB também recuou, mas de maneira menos drástica. Caiu de 15,7% para 14,9% a sua participação no total geral. Desde 1992, o partido perdeu a sua condição de sigla mais votada do Brasil. O balanço do número de prefeituras por partido não considera as 44 cidades em que ainda haverá segundo turno. A eleição deste ano mostra uma tendência à pulverização partidária. Em 2000, sete partidos estavam acima de 5% do total de votos. Agora, nove siglas ficaram com participação percentual superior. Ingressaram no grupo o PL e o PPS. Estão abaixo de 5% e portanto ameaçados em uma eventual reforma política o PSB, o PV e o PCdoB. "Consolidamos nossa força política e eleitoral nos grandes centros e avançamos nas cidades pequenas e médias", disse ontem o presidente nacional do PT, José Genoino Neto. Segundo o petista, metade dos prefeitos do PT que concorreram à reeleição saíram vitoriosos. Nas eleições de 2000, apenas 37% foram reconduzidos. Genoino calculou que elegeu 5 mil vereadores, o dobro do que conseguiu nas eleições de 2000. Mas até o levantamento do TSE divulgado às 18 horas de ontem, estava confirmada a eleição de 3,6 mil vereadores petistas. Na eleição deste ano, o PT privilegiou o grupo de 96 municípios com mais de 150 mil eleitores. Neste universo, o crescimento obtido pelo partido foi modesto, bastante inferior ao do PSDB, segundo levantamento feito pelos próprios petistas. Em 2000, o PT recebeu 8,2 milhões de votos nestas cidades, ou 25,2% do total. Este ano, foram 9,6 milhões de votos, ou 26,4%. Os tucanos há quatro anos receberam 5,1 milhões de votos, ou 15,8%. Pularam para 7 milhões de votos, equivalente a 19,2%. Em relação ao total geral de votos que cada partido obteve, veio deste grupo de 96 cidades 59,2% dos votos petistas. É um percentual inferior aos 68% de concentração nos municípios médios e grandes obtidos pelo PT em 2000, mas ainda indica a dificuldade petista em se capilarizar nos pequenos municípios. Nas previsões iniciais, mais otimistas, os petistas projetavam a eleição de 800 prefeitos, o que lhes daria a condição de segundo partido mais capilarizado do país. Nas últimas semanas, esta projeção inicial já havia sido reduzida para 500 municípios. O PSDB viveu o fenômeno inverso, mas de uma forma mais discreta. Há quatro anos, 38% dos seus votos provinham de cidades com mais de 150 mil eleitores. Agora, este percentual de participação no voto dos grandes centros elevou-se para 44%. O PFL viu a sua participação cair de 13,7% para 10,6% neste universo. Em relação ao total que obteve, o voto dos grandes centros representa 34%. O PMDB elevou a sua participação no eleitorado dos grandes centros de 9,4% do total para 9,9%, mas de todos os grandes partidos é, de longe, o que mais se concentra nos pequenos municípios. Apenas 25,4% dos votos do partido foram recebidos nestas 96 maiores cidades. Genoino destacou as vitórias obtidas por candidatos petistas em capitais de Estados governados por partidos que fazem oposição ao PT no plano federal, como Minas Gerais e Tocantins. Não deu ênfase ao fato do partido não ter vencido na capital de dois dos três Estados que governo, o Mato Grosso do Sul e o Piauí. Mas o dirigente petista disse que seria uma "precipitação" ver no desempenho desses petistas um sinal do que pode ocorrer nesses lugares em 2006, quando haverá eleições para governador. "2006 é outra eleição", afirmou. O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP) concordou com essa avaliação: "Os partidos que mais perderam foram os que estão na oposição, especialmente o PFL". Genoino foi evasivo sobre as alianças que vai buscar para reforçar a campanha dos candidatos petistas que chegaram ao segundo turno. Em Salvador, ele sugeriu que o PT tende a apoiar o candidato do PDT, João Henrique Carneiro, se isso for necessário para obter a ajuda do partido em outras cidades. Mas Genoino não descartou a possibilidade de conversar também com o candidato do PFL, César Borges, ainda que em outros Estados os pefelistas estejam majoritariamente coligados com candidatos que representam a oposição ao governo federal. Alianças entre petistas e pedetistas também são improváveis. Em Porto Alegre, dificilmente Raul Pont conseguirá o apoio de qualquer de seus adversários, com exceção de Beto Albuquerque (PSB). Em São Paulo, o pedetista Paulo Pereira da Silva não chegou a fechar portas para um entendimento com Marta Suplicy, mas o problema é que a votação do candidato do PDT não foi expressiva. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) informou na noite desta segunda-feira que a apuração dos votos das eleições municipais só será concluída nesta terça, ainda sem horário definido. Até agora já foram apurados os votos de 99,95% das urnas, faltando 173 urnas para serem contabilizadas. A maioria das urnas que ainda não foram apuradas está no Pará.