Título: Especialistas descartam bipartidarismo
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2004, Política, p. A-11

A opinião do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, de que o futuro partidário do país será pautado pela bipartidarismo das forças políticas entre PT e PSDB não é compartilhada por alguns dos principais cientistas políticos brasileiros. "O Brasil caminha para ter dois grandes partidos: PT e PSDB", disse o ministro. Os analistas fazem ressalvas à análise do governista. Acham que não se pode descartar a força do PMDB e do PFL. Essas siglas passam por crises de identidade, mas terão espaço político nos próximos anos. O cientista político Luciano Dias, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos (Ibep), concorda em parte com Dirceu. "A constatação do ministro sobre a polarização é correta, mas partidos como PFL e PMDB têm vida própria e não desaparecerão", analisa. Para o especialista, a estruturação das duas legendas na década passada lhes deu a liderança eleitoral. "O que ocorre agora é que os dois partidos se consolidaram nos últimos anos e há uma inércia dessa composição política. Se o eleitor está insatisfeito com o PT, imediatamente olha para o PSDB e vice-versa", diz. O cientista político Gaudêncio Torquato, professor da USP, acredita no aumento da musculatura eleitoral de PT e PSDB depois das eleições de 2004. Mas aponta para o posto de maior detentor de prefeituras do PMDB como um exemplo da força dos demais partidos. Torquato classifica a atual corrida eleitoral como um marco político. "Talvez esteja encerrado um período que chamo de geléia partidária. Os partidos agora vão se recompor e reafirmar ideologias sob pena de desaparecerem. PMDB e PFL terão de rever seus fundamentos", diz. O PFL divide a opinião dos especialistas. "Os pefelistas deverão recriar o posicionamento que perderam para o PSDB na centro direita", acredita Torquato. A cientista política Lúcia Hippólito crê em derrocada do partido. "A legenda vai emagrecer. O PFL não sabe atuar como um partido menor e na oposição", diz. Luciano Dias discorda: "Estou bastante surpreso com o PFL. O partido sempre teve a necessidade de estar ao lado dos governo anteriores e foi muito bem na primeira eleição como oposicionista". O PFL elegeu 779 prefeitos. Hippólito destaca o PMDB como força alternativa à polarização. "Ninguém governa o país sem o PMDB, que continuará com muitas prefeituras", analisa. Torquato destaca a necessidade de o PMDB buscar um caminho a seguir nas próximas eleições. "O PMDB deverá rapidamente buscar o seu eixo, procurar um nicho conceitual, sob pena de multiplicar a divisão interna. É um partido completamente esfumaçado", diz. Torquato destaca os resultados de PPS e PSB. "Tiveram bom desempenho por que mantiveram-se mais nítidos no quadro partidário. Poderão crescer no futuro por terem uma visão ideológica coerente", afirma. O cientista político César Romero Jacob aponta São Paulo como o estado mais importante para a consolidação dos partidos no país. O professor da PUC-RJ aponta a disputa entre José Serra e Marta Suplicy na capital paulista como exemplo da polarização de PT e PSDB. "Mas mesmo com uma possível vitória de Serra, o PT será mais federalizado e representativo", diz. O resultado das eleições em São Paulo ditarão o futuro de tucanos e petistas. No PSDB, onde o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, e o cacique cearense e senador Tasso Jereissati, viram seus apadrinhados perderem nas urnas, haverá um fortalecimento do tucanato paulista. "Geraldo Alckmin, Serra e Fernando Henrique definitivamente tomarão a frente do partido", diz. No PT, há uma inversão dessa lógica. Com a vitória de Fernando Pimentel em Belo Horizonte e uma possível reeleição de Raul Pont em Porto Alegre, dois estados fundamentais ganham força na aldeia petista. "A força do PT era muito concentrada. Com a eleição de Pimentel e se Pont vencer, haverá uma despaulistalização da legenda".