Título: Venda de aço deve crescer 14% no país neste ano
Autor: Ivo Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2004, Empresas & Tecnologia, p. B-1

A medir pela demanda nacional de aço ate setembro, a economia brasileira vai bem. Conforme dados revelados ontem pelo Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), as vendas internas em 2004 vão crescer 14,3%, superando a previsão feita em janeiro. O volume de despacho das usinas para consumidores locais vai chegar a 17,6 milhões de toneladas. A expectativa anterior era de uma demanda em torno de 16,5 milhões de toneladas. Os dados foram revelados por Jose Armando de Figueiredo Campos, presidente do IBS e principal executivo da Cia. Siderúrgica de Tubarão (CST). De acordo com o executivo, as perspectivas para 2005 mostram continuidade no consumo. O aço é um item importante na fabricação de diversos bens industriais, como automóveis, autopeças, geladeiras, tubos, navios, entre outros. A construção civil, que até maio patinava, passou a comprar mais e hoje é um dos setores que puxam a demanda de aços longos, ao lado da indústria. As vendas desse tipo de aço vão crescer quase 20% em 2004, superando 7 milhões de toneladas (5,9 milhões em 2003), e a previsão para 2005 é de aumento de 7%. Na media, entre aços planos e longos, o IBS estima expansão de 5,8%, alcançando 18,63 milhões de toneladas no próximo ano. Esses números estão em linha com dados divulgados ontem pelo Instituto Internacional do Aço e Ferro (IISI, na sigla em inglês), que previu aumento do PIB brasileiro de 4% para este ano e de 3,7% para 2005. E prevê continuidade da demanda mundial de aço. O consumo mundial estimado para o próximo ano chega a 990 milhões de toneladas. Alguns anos atrás não passava de 800 milhões. O consumo aparente do Brasil, que soma vendas internas mais importações, será de 18,2 milhões de toneladas neste ano (alta de 14%) e a previsão é de 19,3 milhões de toneladas em 2005 (mais 6,3%). "Não vai faltar aço no Brasil", afirmou Campos. Segundo o executivo, neste ano a produção está crescendo acima da previsão. Ele disse que a projeção revisada indica que o país superará 33 milhões de toneladas. O volume anterior era de 32,4 milhões. São 600 mil toneladas a mais e com isso a alta será de 6,1%. Com projetos de expansões da Belgo-Mineira, Gerdau e outros marginais das demais usinas, para 2005 o setor projeta 33,86 milhões. O pais bate recordes desde 2001. As usinas estão operando com capacidade de quase 100%, na media - o setor tem capacidade instalada em 2004 em torno de 34 milhões de toneladas de aço bruto. Rinaldo Campos Soares, presidente da Usiminas, disse que está produzindo tudo que pode. As vendas internas da Usiminas vão chegar a 85% do volume total, superando a marca de 80% que a empresa fixou para atuação no mercado interno. Campos informou que o Brasil esta exportando menos semi-acabados (placas e tarugos) para poder atender o mercado doméstico. É o caso da CST, que fará 2 milhões de toneladas de laminados a quente, a maior parte voltada para atender clientes internos. O executivo não vê dificuldades de abastecimento até o fim da década, mesmo com o PIB crescendo 4% por ano. Segundo ele, há condições de ampliar a oferta na sua empresa e na coligada Vega do Sul , com investimentos marginais. A CST com pouco mais de US$ 40 milhões pode dobrar seu laminador de tiras e bobinas a quente, de 2006 em diante, quando sua capacidade crescerá de 5 milhões para 7,5 milhões de toneladas. Soares tem uma visão diferente e mostra preocupação sobre problemas por volta de 2008. "Existe uma grande preocupação em estimular investimentos de grande porte em pólos de placas no Maranhão e outros lugares para exportação, mas estão esquecendo da demanda doméstica", afirmou. Ele disse que manifestou essa preocupação ao governo e ao BNDES e destacou que investimentos em produtos acabados são elevados e precisam ser decididos com pelo menos três anos de antecedência. Para o presidente do IBS "há uma certa visão de pânico" sobre possibilidade de faltar aço. Mas lembrou que "é hora de as empresas colocarem em seu foco a necessidade de futuros investimentos para atender a demanda interna". Disse que as empresas do setor nunca estiveram tão capitalizadas e com baixo nível de endividamento como neste ano. "Todo mundo está ganhando dinheiro". Nos dois últimos anos, os preços do aço subiram no mundo cerca de 80%. Sobre os grandes projetos previstos para a siderurgia no país, o executivo disse que "é uma questão de demanda", que em última instância é quem vai decidir se há espaço para colocar mais 24 milhões de toneladas no mercado internacional. "O que o setor não precisa é da interferência estatal; o Brasil pode prescindir disso", afirmou. "Todos estão encantados com os ganhos da siderurgia, mas essa é uma indústria cíclica. Dez anos atrás, as empresas do aço só destruíram valor e muito disso tinha a ver com excesso de oferta patrocinada por governos". O mercado internacional de placas, segundo Campos, é hoje de 28 milhões de toneladas e vai a 30 milhões em 2005. A projeção para o fim da década é de 40 milhões de toneladas. E os preços médios do produto, hoje em US$ 340 a tonelada (passa de US$ 500 no spot), historicamente são de US$ 210.