Título: Diretor mexicano traz o cinema móvel para o mercado brasileiro
Autor: Carolina Mandl
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2004, Empresas & Tecnologia, p. B-1

Se as massas não podem ir ao cinema, o diretor mexicano Rául Fernández criou um jeito de levar o cinema até elas. O que ele não imaginava era que a sua invenção, um caminhão-cinema - uma sala de exibição ambulante - iria se transformar em um negócio que faturou US$ 1,6 milhão no ano passado. No México, Fernández hoje aluga a parte externa dos cinemas móveis para grandes grupos, entre eles Nestlé, Coca-Cola, AOL e Nokia, que podem estampar suas marcas nas carrocerias. Assim como no Brasil, a indústria cinematográfica mexicana também viveu seus dias de penúria, com o fechamento de várias salas de exibição nos anos 90. Em 1994, quando lançava seu mais novo filme, Fernández foi surpreendido por uma má notícia. O governo mexicano estava se desfazendo da Companhia Operadora de Teatros (Cotsa), dona de cerca de 3 mil salas no país. Metade delas viria a apagar as luzes definitivamente nos anos seguintes. "E onde eu vou passar meus filmes?", perguntava-se o cineasta na época. Fernández criou um cinema que pudesse viajar para todos os cantos, transformando um caminhão em uma sala de exibição. Hoje, seus cinemas móveis nada têm de mambembe. Fernandéz constrói enormes caminhões com capacidade para até 95 espectadores. Por dentro, em nada diferem de um cinema: têm pipoqueiro, doceria, banheiros, bilheteria e ar-condicionado. No mês passado, depois de já ter fabricado sete cinemas móveis e estreado na Argentina e nos Estados Unidos, o Cine Transformer chegou ao Brasil. Existem no Brasil cerca de 1.700 salas, sendo que, em meados da década de 70, eram 3.300, segundo dados do Ministério da Cultura. Quase 95% dos municípios não têm cinema. "Assim como o México, o Brasil é muito grande. E o cinema móvel permite levar cultura para os lugares mais distantes", diz Fernández, que está em busca de patrocinadores. A Cine Transformer encarrega-se do transporte, dos filmes digitais - se assim o cliente desejar - e mantém três funcionários. Grandes marcas já apostaram na idéia. No México, a Nestlé utiliza o cinema móvel para promover o leite Ninho: quem traz a embalagem assiste ao filme de graça. No Brasil, além de encontrar patrocinadores, o cineasta pretende alugar o caminhão para organizações não-governamentais e prefeituras. Por enquanto, apenas um caminhão está estacionado no país, com 84 lugares. Mas outros podem ser trazidos, já que três cinemas estão sendo construídos em uma fábrica da própria Cine Transformer no México. Cada um custa cerca de US$ 600 mil e conta com financiamento do Banco Nacional de Comércio Exterior (BancoMext). Apesar de já estar hoje à frente de uma multinacional, Fernández não desistiu de fazer filmes. "Agora que a empresa já está bem encaminhada, volto a me dedicar a eles no próximo ano."