Título: Vendas do varejo crescem no trimestre
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 14/04/2005, Brasil, p. A3

As vendas do varejo cresceram no primeiro trimestre deste ano. Os primeiros dias de abril também indicam que os próximos meses serão de vendas em alta. A inadimplência estável em patamares considerados baixos e a perspectiva de continuidade da recuperação da massa salarial dão confiança para as empresas apostarem no crescimento do faturamento ainda ancorado na venda a crédito, apesar das recentes altas da taxa básica de juros. Na Dicico, as vendas de material para construção cresceram 35% entre fevereiro e março, sendo que em fevereiro houve queda de 5% em relação a janeiro - movimento explicado por menos dias úteis e pelo Carnaval. Na comparação com março de 2004, o incremento nas vendas chegou a 40%. Descontados os efeitos da abertura de quatro novas lojas no período, a alta foi de 15%. O ticket médio gasto nas lojas na comparação anual cresceu entre 20% a 25%. O primeiro fim de semana de abril após o pagamento dos salários foi considerado "excelente" pelo diretor de marketing da empresa, Carlos Roberto Corazzin. Ele prevê que em abril as vendas fiquem, pelo menos, no patamar de março. Na rede de supermercados Coop, as vendas cresceram 12% no primeiro trimestre. Só em março a alta foi de 18% sobre o mesmo mês do ano passado e de 16% em relação a fevereiro. O resultado foi bastante influenciado pela Páscoa. Ainda assim, descontado esse efeito e a diferença de dias úteis entre os dois meses, as vendas subiram 4% entre fevereiro e março. A procura por eletrodomésticos avançou 27% no trimestre e 37% somente em março. Mas esse tipo de produto representa apenas 5% das vendas da Coop, ressalta Márcio Valle, vice-presidente da empresa. Para abril, o executivo espera um desempenho global das vendas até mesmo melhor do que março. O diretor da Dicico explica que o crédito tem sido a grande alavanca para suas vendas. "Como vendemos em 12 vezes sem juros e o consumidor está mais confiante, também acaba por levar produtos de maior valor agregado", comenta. Os níveis de inadimplência seguem estáveis em patamares considerados baixos pela empresa. "O risco de não pagamento é baixo e, por isso, podemos vender em 24 vezes com juros reduzidos, de 1,99% ao mês", afirma. De acordo com cálculos do Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) de São Paulo, a taxa de inadimplência líquida ficou em 6,4% em março, levemente abaixo dos 6,5% do mesmo mês de 2004. No setor de eletrodomésticos e eletroeletrônicos, a rede de Lojas Cem verificou incremento de 12% nas vendas em março. "Tivemos uma freada em relação ao ano passado. Mas isso se dá por conta de uma base de comparação muito forte", explica Valdemir Coleone, supervisor geral da empresa. Já os últimos dias indicam que no mês de abril as vendas podem crescer 15%. Para Adhemar Luiz Volpe, presidente da Bestmix e da Panashop, o mês de janeiro foi muito bom, mas em fevereiro e março as vendas ficaram em patamares semelhantes aos vistos em 2004 - o que é positivo, uma vez que o crescimento no ano passado foi robusto. Em abril, no entanto, ele já vê "um consumidor mais animado", o que faz com que sua previsão de alta no faturamento em 2005 chegue a 15%, contra 35% em 2004. Além disso, nos próximos dois anos, Volpe planeja abrir mais 200 lojas. Para Fábio Silveira, sócio-diretor da MS Consult, apesar da produção de eletrodomésticos ter acumulado queda de 0,7% no primeiro bimestre do ano em relação a igual período de 2004, o bom desempenho do setor em fevereiro, com alta de 4,5% mostra que há uma tendência de crescimento para este ano, mas a taxas menores. A expectativa é de que a linha branca (fogões e geladeiras) cresça 4%, e a marrom, 8%. Na avaliação de Silveira, apenas o segmento de portáteis deve ter desempenho semelhante ao de 2004, pois seus preços médio e sua durabilidade são menores. Para os eletrodomésticos como um todo, ele espera alta de 7,5% na produção. No ano passado, esse número chegou a 20,6%. Para o vice-presidente da Riachuelo, Newton Rocha Junior, o aumento da Selic não deve ser um complicador para as vendas neste ano. Segundo ele, enquanto o mercado de trabalho seguir em expansão, a demanda também irá crescer. "O problema vai aparecer se a alta dos juros complicar a geração de empregos". No primeiro trimestre, o faturamento da rede cresceu 40%. Em abril, o desempenho deve se repetir, prevê ele. Para o fechamento do ano, espera-se crescimento de 30%, percentual semelhante ao de 2004. A inadimplência, por sua vez, estabilizou em 4% no trimestre, número menor do que os 4,5% verificados no ano passado. A massa salarial é vista, ao lado do acesso ao crédito, como alicerce para o bom desempenho do varejo. No primeiro bimestre, segundo cálculos da LCA Consultores com dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a massa cresceu 1,39%. Só em fevereiro, último dado disponível, o incremento nesse indicador foi de 6,45% sobre fevereiro de 2004. Na avaliação de Paulo Saab, presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), o crédito é o fator mais importante que tem impulsionado a demanda. Saab diz que, dispondo de crédito, todas as classes compram eletroeletrônicos, o que se verifica agora. Sua percepção é a de que a forte expansão do crédito consignado (desconto em folha), inclusive para aposentados, esteja levando a um aumento do volume de vendas nas classes B, C e D. Na Casa Show, loja de material de construção do Rio de Janeiro, as vendas aumentaram 6% em março sobre igual mês de 2004. O resultado foi considerado bom, mas abaixo das expectativas, que giravam entre 8,5% e 9%, conta Guilherme Rodrigues, diretor da empresa. Entre janeiro e fevereiro, o crescimento médio ficou em 4,5%. Em outra rede do ramo da construção, a C&C, o faturamento avançou entre 5% e 6% no trimestre, enquanto a inadimplência caiu de 4,5% em março de 2004 para 4% neste ano. Uma pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo (USP) mostrou que os consumidores não pretendem reduzir o consumo neste segundo trimestre. De uma amostra de 500 pessoas, 68,2% delas pretendem comprar algum bem durável entre abril e junho deste ano. Os produtos da chamada linha branca estão no topo da preferência, com 13% das respostas, seguidos por artigos de cama, mesa e banho, com 11,4%. A seguir estão móveis, materiais de construção e telefonia (9,2%), eletroeletrônicos e informática (8,6%), automóveis (5,6%), autopeças e acessórios (3,4%) e foto e ótica (3%). (Colaborou Cynthia Malta)