Título: Divergências fazem governo adiar decisão sobre Angra 3
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 14/04/2005, Brasil, p. A4

O governo adiou a decisão sobre a retomada das obras para a conclusão da usina nuclear de Angra 3. A divergência de posições entre os relatórios sobre a viabilidade do projeto, discutido ontem por cerca de três horas em reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), levou o ministro da Casa Civil, José Dirceu, a pedir vistas do processo. Ele quis mais tempo para avaliar os relatórios e sugeriu a realização de uma reunião extraordinária do CNPE - ainda sem data marcada, mas que deve ocorrer dentro de algumas semanas. Três estudos diferentes e independentes foram elaborados pelos ministérios de Minas e Energia, Ciência e Tecnologia, e Meio Ambiente. Além deles, participam do conselho outras quatro pastas: Fazenda, Planejamento, Casa Civil e Desenvolvimento. O governo se dividiu em dois grupos, que vêem a conclusão de Angra 3 sob ângulos opostos. De um lado, na reunião, posicionaram-se os ministérios de Minas e Energia e do Meio Ambiente, contrários à retomada da obra. Do outro, Ciência e Tecnologia, favorável à usina. Os demais não se definiram. O Ministério de Minas e Energia avalia que o sistema elétrico precisa de novos investimentos para expandir sua capacidade instalada e afastar qualquer risco de racionamento após 2010, período tido como relativamente seguro pela ministra Dilma Rousseff. Dilma argumenta, porém, que a energia nuclear não é viável do ponto de vista econômico. Acha que o país deve explorar melhor o seu potencial hidrelétrico antes de pensar na alternativa de Angra 3. A ministra tem observado menos obstáculos na obtenção de licenças ambientais para a implantação de aproveitamentos hidreléticos. Mesmo em caso de dificuldades para a efetiva construção das hidrelétricas, ela acredita que há opções mais baratas e rápidas - como as térmicas a gás - do que a construção do projeto nuclear, cujo produto sairia muito caro às distribuidoras e, consequentemente, ao consumidor. O Ministério do Meio Ambiente uniu-se a esse lado na rejeição à Angra 3. O secretário-executivo da pasta, Claudio Langone, afirmou que há alternativas "mais baratas e menos impactantes" do que a finalização da usina nuclear. Os técnicos da equipe de Langone viram dois riscos que inviabilizariam o projeto. Primeiro, não houve avanços tecnológicos suficientes que permitam reduzir consideravelmente os "riscos intrínsecos" de acidentes com os reatores. Esse risco de acidentes é maior do que com qualquer outro tipo de energia, garantiu Langone. O segundo fator, disse o secretário, é que "não existe em nenhum lugar do mundo" uma alternativa adequada para o depósito de rejeitos nucleares de alta densidade, que podem durar até 500 anos. Dos três relatórios, o único que defendeu a conclusão de Angra 3 foi o do Ministério de Ciência e Tecnologia. O ministro Eduardo Campos lembrou que o país já fez investimentos de US$ 700 milhões, sobretudo na compra de máquinas e equipamentos, e falta investir R$ 1,8 bilhão para completar o projeto da usina. Na avaliação dele, a finalização da usina seria uma espécie de alavanca para o desenvolvimento do programa nuclear brasileiro, com objetivos que vão além da geração de energia. Campos argumentou que o potencial do programa é muito grande, uma vez que o Brasil possui a sexta maior reserva mundial de urânio