Título: Lula desembarca sob clima de rebelião pemedebista
Autor: Raymundo Costa e Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 14/04/2005, Política, p. A9

O presidente Lula desembarca hoje em Brasília com uma lista de problemas a resolver. O primeiro item da lista é o PMDB, cuja rebelião no Senado ameaça a já precária maioria construída pelo governo com a eleição de Renan Calheiros (AL) para a presidência da Casa e a nomeação do senador Romero Jucá para a Previdência Social. Por enquanto, os pemedebistas têm se voltado contra pessoas consideradas hostis ao partido, como a ministra Dilma Rousseff (Minas e Energia), e preservado o governo - mas a situação pode fugir de controle, admite a cúpula pemedebista. Os exemplos foram dados na terça-feira: o PMDB comandou a rebelião para rejeitar a indicação de José Fantini para a Agência Nacional de Petróleo (ANP), mas no mesmo dia impediram a convocação do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, por uma comissão do Senado, e aprovaram o projeto de lei do biodiesel. Ou seja, atacaram especificamente Dilma, pois a recusa do nome de Fantini ainda pode ser revertida no plenário do Senado. A insatisfação pemedebista tem várias causas, mas no momento é a difícil relação do partido com o PT nos Estados que alimenta a rebelião. O PT propõe uma coligação com o PMDB para 2006, mas não só não cumpriu com os acordos feitos para a distribuição dos cargos federais, como estaria, agora, também tirando aqueles que já estavam com o PMDB. Casos da elétrica do Piauí, um feudo do senador Alberto Silva, de diretorias da Eletronorte que estavam na cota do senador Valdir Raupp e de diretoria do Banco do Nordeste prometida há mais de ano para o líder da bancada, Ney Suassuna (PB). Em almoço da bancada dos senadores do PMDB ontem, Renan Calheiros resumiu a situação: falta um interlocutor no Planalto que resolva as situações. Recentemente, a bancada esteve com o ministro José Dirceu (Casa Civil), mas ele reagiu dizendo que não tem nada mais a ver com a coordenação política. O problema é que o ministro da Coordenação, Aldo Rebelo, não tem " poder de caneta" para atender às reivindicações pemedebistas. Na reunião com Lula, Aldo vai defender que o governo atenda ao PMDB. Deve contar com o apoio do líder do PT no Senado, Delcídio Amaral (MS). A expectativa é que Lula faça como fez com o PTB e o PL: mandou nomear os indicados petebistas para a Petroquisa, IRB e Eletrobrás, e liberou o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento (que é do PL), a executar o Orçamento da Pasta sem os limites impostos pela equipe econômica. Até o final da tarde de ontem Dilma não havia procurado os líderes pemedebistas. O Planalto só vai insistir com Fantini no plenário, se a ministra resolver seu contencioso com o PMDB. Mas o ministro Antonio Palocci (Fazenda) procurou Renan Calheiros para dizer que a nomeação de seu irmão Adhemar para uma diretoria da Eletronorte fora opção técnica, não tivera intervenção partidária dele. Além disso, a reação do PT à rejeição do nome de Fantini azedou ainda mais a relação entre as duas siglas. O líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB), reagiu com indignação ao tomar conhecimento de declarações do líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), de que o PMDB teria traído o governo no episódio. "Nós somos parceiros do governo, mas não somos subordinados", disse o líder pemedebista. Em telefonema a Mercadante, Suassuna deixou claro o descontentamento do PMDB. Os senadores pemedebistas cobram do governo reconhecimento por várias ações no Congresso em favor da governabilidade. No mesmo dia em que eram votadas as indicações para a ANP, por exemplo, o PMDB atuou na Comissão de Fiscalização e Controle (CFC) do Senado para salvar o governo de constrangimentos futuros. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), havia apresentado um requerimento convidando para audiência pública, entre outros, do tesoureiro nacional do PT, Delúbio Soares, para explicar sua participação na suposta compra do "Dossiê Cayman" - denúncias contra tucanos - pelo ex-presidente Fernando Collor de Mello. Com a ajuda do PMDB, em acerto prévio com o governo, o quórum da sessão da CFC caiu e o requerimento tucano não foi votado. Também como resposta ao governo, a bancada do PMDB na Câmara decidiu ontem recolher assinaturas dos 89 deputados em moção de apoio ao ministro da Previdência, Romero Jucá. O quadro de desarticulação no Senado, agravado pelas questões do PMDB, começa a preocupar o governo. Tanto que Mercadante convidou para uma conversa o líder do PFL, José Agripino Maia (RN). Mercadante disse ao pefelista que quer conversar sobre a intervenção federal no Rio de Janeiro. O petista também sinalizou a outros colegas de oposição que pretende ter conversas sobre problemas pontuais nos Estados.