Título: Dilma é aconselhada a ser mais afável com parlamentares
Autor: Maria Lúcia Delgado e Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 14/04/2005, Política, p. A9

O governo analisa com cautela as razões da derrota política na Comissão de Infra-Estrutura do Senado, que rejeitou a indicação de José Fantini para comandar a Agência Nacional de Petróleo (ANP), antes de submeter o nome dele à votação no plenário. Setores do PMDB, PFL e PSDB prometem se unir para rejeitar novamente a indicação em plenário caso o governo insista na votação nos próximos dias. Em conversas ontem com líderes governistas, a ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, descartou a possibilidade de indicar outro nome para o cargo. "Vamos trazer a votação ao plenário desde que sejam removidos os obstáculos políticos que levaram a esse resultado", afirmou o líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP). Enquanto o governo tenta aparar as arestas com o PMDB, Dilma será aconselhada a adotar um comportamento mais afável com os parlamentares. Essa já tinha sido a orientação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a todos os ministros nos últimos meses, exatamente para evitar rusgas desnecessárias com a base de sustentação no Congresso. A avaliação dos senadores é que a principal razão da rejeição ao nome de Fantini foi política - as insatisfações do PMDB com a ministra e com o governo -, mas está em jogo também a concepção divergente de oposição e governo sobre o papel das agências reguladoras. Integrantes da ANP percorreram gabinetes dos senadores, segundo relatos dos parlamentares, pedindo a rejeição do nome de Fantini. PSDB e PFL consideram que a ministra Dilma tem um perfil "estatizante", que funciona como obstáculo a futuros investidores no setor. "A rejeição deve ser respeitada e o governo deve indicar um novo nome. Houve uma soma de fatores: desde a indicação inadequada de um defensor explícito do monopólio do setor à insatisfação de setores da base do governo", explicou o senador Jorge Bornhausen (PFL-SC). O líder do PMDB, Ney Suassuna (PB), avisou ontem a Mercadante que é imprudente colocar o nome em votação nos próximos dias em plenário. "Se eu fosse o PT, tentava primeiro aparar as arestas", sugeriu Suassuna. Para o líder do PFL, José Agripino Maia (RN), a derrota da indicação foi um sinal de que os parlamentares não aceitam um técnico com perfil estatizante para controlar a ANP. "Os mesmos partidos que se mobilizaram na Comissão de Infra-Estrutura vão se mobilizar no plenário para derrubar a indicação. A ministra quer tutelar as agências e ter sua digital lá. Ela é claramente estatizante. O governo vai ter que negociar bastante aqui", analisou Agripino Maia. Com o intuito de se reaproximar do PMDB, o governo já começou a fazer um levantamento da lista de insatisfações. "Estamos vendo onde estão os descontentamentos", contou o líder do PT, Delcídio Amaral (MS), encarregado de manter contato permanente com a ministra. Com amplo conhecimento no setor, Amaral afirmou que José Fantini é um nome técnico competente e não pode ser descartado. Amaral afirmou que José Fantini é um nome técnico competente e não pode ser descartado. "Ele sabe operar. Não se mobilizou a favor da quebra do monopólio porque era funcionário de carreira. Queriam o que? Que ele engrossasse as fileiras das mobilizações? Iam matar ele lá dentro se fizesse isso", disse. O diretor-geral interino da ANP, Haroldo Lima, lamentou a rejeição do Senado ao indicado do governo e atribuiu a derrota a uma "ato político". Ex-deputado pelo PCdoB da Bahia, ele considera, no entanto, que houve erro do próprio governo. "A oposição estava muito bem articulada. Quando há uma articulação desse tamanho, o outro lado tem que perceber", afirmou. Chefiando interinamente a agência desde janeiro, o ex-parlamentar invocou a sua experiência no Congresso para recomendar ao Ministério de Minas e Energia que recomende um outro nome, como alternativa ao de Fantini. Ele acha que dificilmente o indicado teria chance de ser aprovado em plenário porque o Congresso tem "espírito de porco". "Seria uma aventura enorme do governo", disse. Para Lima, as decisões da comissão têm que ser respeitadas e Fantini deveria recuar. "Se eu fosse ele (Fantini), não aceitaria."