Título: Fundo vê urgência em conter desequilíbrios globais
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 14/04/2005, Especial, p. A15

O Fundo Monetário Internacional (FMI) adotou um tom de emergência ao tratar dos desequilíbrios globais, apelando aos países desenvolvidos para que apressem a tomada de medidas impopulares para corrigir a dependência do crescimento dos EUA e da China. "O tempo está acabando, e os mercados podem não querer esperar até as próximas eleições. O mundo precisa agir agora", disse ontem o economista-chefe do FMI, Raghuram Rajan. O Fundo defende há algum tempo a necessidade de maior equilíbrio nas taxas de crescimento mundial, mas agora está cobrando um prazo dos países desenvolvidos. Rajan citou até Santo Agostinho ao avaliar a lentidão da tomada de decisões relativas a reformas trabalhistas e fiscais. "Todas as regiões têm um papel a desempenhar tomem medidas rapidamente para evitar para a solução dos desequilíbrios globais. Elas parecem ter concordado com isso, mas sua atitude em relação à necessidade de mudança de políticas parece a de santo Agostinho: 'Deus, dai-me castidade... só que não agora'." Apesar do tom de emergência, as previsões do FMI para o crescimento global este ano são otimistas. O relatório "Perspectivas da Economia Mundial", apresentado ontem, prevê que a economia mundial cresça 4,3% este ano, um nível alto ainda que menor que os 5,1% do ano passado. Os países em desenvolvimento devem crescer 6%, os Estados Unidos 3,6% e a região euro, apenas 1,6%. O Fundo reduziu a perspectiva de crescimento tanto para a Europa quanto para o Japão neste ano. Na avaliação do FMI, os EUA precisam reduzir o déficit de conta corrente e aumentar a poupança interna; Europa e Japão devem fazer reformas para aumentar o crescimento econômico; a máquina exportadora chinesa precisa adotar uma taxa de câmbio mais flexível e evitar que investimento de má qualidade crie problemas no setor financeiro. "Com a taxa de crescimento atual, a Europa simplesmente não tem mais como pagar o seu 'welfare state' [Estado do bem-estar social] e o Japão terá dificuldade em lidar com seus problemas fiscais", disse o economista. Rajan lembrou que políticos nos países desenvolvidos estão adiando reformas impopulares de acordo com seus calendários eleitorais, mas que as reformas necessárias só trarão frutos no médio prazo. "Os Estados Unidos precisam economizar mais. É preciso adotar medidas críveis para que a intenção de reduzir o déficit fiscal à metade em 2009 seja atingida. O consumidor americano, que tirou o mundo da recessão comprando, precisa descansar e poupar mais." Os desequilíbrios acarretam outro grande problema, segundo o FMI, que é o fluxo de capital "na direção errada", com o financiamento de déficits de conta corrente nos Estados Unidos por países em desenvolvimento, o que contradiz a necessidade destas economias levando em consideração o envelhecimento da população nos países desenvolvidos. "Países emergentes da Ásia estão protegidos por reservas contra tudo, excluindo o Apocalipse", brincou o economista do Fundo, referindo-se à China, que só no ano passado elevou seu total de reservas em mais de US$ 200 bilhões. Se não houver uma moderação ou melhora de qualidade no investimento na China (que atingiu 45% do PIB no ano passado), há o risco de criação de um gigantesco rombo no sistema financeiro do país. Falta de ação para aumentar a taxa de poupança nos EUA pode resultar em queda drástica do dólar ou disparada dos juros. Se a Europa e o Japão não crescerem mais, não haverá um contrapeso a uma desaceleração nos Estados Unidos. Outro fator de risco à economia mundial é a volatilidade dos preços de petróleo, que o FMI agora prevê que seja de longa duração. Até o ano passado, o Fundo acreditava que o fim da guerra no Iraque poderia provocar a queda de preços. "Às vezes os acontecimentos são necessários para que acordemos", justificou Rajan ao discutir os erros em previsões anteriores, dizendo que ao longo do ano passado a demanda de petróleo pela China e Índia foi subestimada.