Título: Alcatel é cotista do Opportunity Fund, diz Citi
Autor: Catherine Vieira
Fonte: Valor Econômico, 14/04/2005, Empresas &, p. B1

A francesa Alcatel, um dos grandes fornecedores da Brasil Telecom (BrT), tem investimentos relevantes no Opportunity Fund, afirma documento apresentado pelo Citigroup à Justiça de Nova York. O Opportunity Fund é acionista do Opportunity Zain, que controla indiretamente a operadora de telefonia - o que configuraria um conflito de interesses na empresa. Segundo o documento do Citigroup, ao qual o Valor teve acesso, o investimento da Alcatel no fundo "está relacionado principalmente à Brasil Telecom e à Telemar e está aparentemente segregado de todos os outros investimentos no Opportunity Fund". O grupo Opportunity também é acionista da Telemar, indiretamente. A Alcatel teria se comprometido a estender o prazo de seu investimento no Opportunity Fund em troca da garantia de recomprar suas cotas. Mas o valor estabelecido permitiria à multinacional francesa recuperar muito menos do que investiu, relatou o Citigroup ao tribunal de Manhattan. O banco disse ter sido informado dessa transação, pelo Opportunity, em 14 de janeiro deste ano. De acordo com o Citigroup, o exercício do direito de recompra das cotas pela Alcatel elevaria as participações do Opportunity Fund na BrT e na Telemar. Questionada sobre o assunto, a Alcatel informou que a subsidiária brasileira não possui qualquer investimento em fundos. A assessoria de imprensa disse que a matriz do grupo, na França, só poderia se pronunciar depois que tivesse acesso ao teor do documento. A Alcatel é dos principais fornecedores da BrT. Entregas de equipamentos para os serviços de banda larga e telefonia móvel estão entre os contratos que a multinacional tem com a concessionária. Brasil Telecom e Telemar não quiseram comentar o assunto. "Nós já tivemos conhecimento da ação e todas as medidas necessárias estão sendo tomadas e serão apresentadas à Corte de Nova York", declarou a diretora do Opportunity Maria Amalia Coutrim em e-mail enviado pela assessoria de imprensa. O relato sobre a Alcatel consta de documento de 48 páginas entregue pelo Citigroup à corte para justificar por que afastou o Opportunity da gestão do fundo CVC, controlador da BrT, Telemig Celular e Tele Norte Celular, entre outras empresas. O banco americano pede indenização de US$ 300 milhões do Opportunity por quebra de dever fiduciário do antigo administrador da carteira. As acusações que faz ao Opportunity são de quebra de contrato, quebra de dever fiduciário, fraude, representação negligente, falha profissional, mau uso de recursos do CVC para pagar despesas judiciais, enriquecimento impróprio e elaboração de contratos e acordos em nome do fundo sem autoridade para tanto. Para justificar as acusações, o Citigroup descreveu outras situações - além do caso envolvendo a Alcatel - que mostrariam abuso de poder do Citigroup. Entre elas, estão a suposta assinatura de contratos estabelecendo condições para a venda de ativos do CVC, como informou ontem o Valor e a atuação do Opportunity na compra da fatia da canadense TIW na Telemig Celular e numa emissão de debêntures feita pela Santos Brasil. Além da indenização, o Citigroup pede ao juiz que declare sem validade contratos feitos pelo Opportunity e reconheça a existência de títulos conversíveis de US$ 22 milhões emitidos pela Highlake (acionista da Telemig Celular) e detidos pelo CVC. Também solicita que o Opportunity não interfira mais na decisão de tirá-lo do CVC e não impeça o Citigroup de levar adiante a venda da Telemig. O banco quer ainda que o juiz garanta o direito de a Techold, controlada pelo CVC e fundos de pensão, converter suas ações preferenciais em ordinárias na Solpart - holding da Brasil Telecom. (Colaborou Taís Fuoco, do Valor Online, de São Paulo)