Título: Dantas é indiciado por formação de quadrilha
Autor: Catherine Vieira
Fonte: Valor Econômico, 14/04/2005, Empresas &, p. B1

A Polícia Federal (PF) vai concluir até o fim da semana que vem e encaminhar ao Ministério Público as conclusões do inquérito que ficou conhecido como Operação Chacal e investigou supostas ilegalidades nas atividades das atividades da Kroll, contratada pela Brasil Telecom. A assessoria da PF informou, no entanto, que haverá uma continuidade nas investigações de novos indícios encontrados que devem, inclusive, originar novos inquéritos. "As investigações já levam a outros crimes", informou o assessor da PF. Ontem, foi confirmado o indiciamento de Daniel Dantas por formação de quadrilha, corrupção ativa e quebra de sigilo, exatamente os mesmos artigos usados para indiciar Carla Cico, presidente da Brasil Telecom, operadora de telefonia que, na prática, ainda é controlada pelo Opportunity, de Dantas. Além dos dois executivos, serão indiciadas outras 18 pessoas, segundo a PF, todas funcionárias ou ligadas à Kroll. Ontem, Daniel Dantas depôs por duas horas e meia na superintendência da PF no Rio, onde falou a um delegado que veio de Brasília especialmente para ouvi-lo. Segundo informou a assessoria da PF, o sócio do Opportunity negou todas as acusações e questionamentos feitos pelo delegado. De acordo com informações da PF, Dantas chegou ao local às 8h, duas horas antes do previsto e entrou pelos fundos do prédio. Pouco antes das 13h, o banqueiro deixou o prédio dentro de um carro com os vidros escurecidos, para evitar contato com a imprensa. Logo em seguida, seus advogados, Nélio Machado e Antônio Carlos de Almeida Castro, saíram pela porta principal. Com o depoimento de Dantas, as investigações do caso, que começaram em outubro, foram encerradas, uma vez que os delegados responsáveis entendem já ter material suficiente para relatar o caso. A partir do momento em que receberem o material, os procuradores do MP vão avaliar o caso e poderão fazer uma denúncia que daria início a um processo judicial contra alguns ou todos os indiciados. O inquérito que acabou sendo conhecido como caso Kroll ou Operação Chacal foi originado a partir de indícios encontrados pela PF durante a investigação da Parmalat. O advogado de Dantas e Cico, Nélio Machado, disse que vai aguardar o relatório final para analisar a estratégia a ser tomada. Segundo ele, Dantas confirmou à PF que tinha conhecimento da contratação da Kroll pela BrT no exterior, mas afirmou que não havia nenhuma irregularidade nesse contrato. "É um procedimento normal, inúmeras grandes empresas no mundo todo contratam os serviços da Kroll", disse o advogado. Segundo nota de esclarecimento que a BrT soltou no início das investigações, a Kroll foi contratada para obter provas de irregularidades que teriam sido cometidas pela Telecom Italia e que teriam prejudicado a operadora. A PF entendeu, porém, que a Kroll usou meios ilícitos para obter informações, como escutas e violação de e-mails. Ontem, Machado voltou a criticar a atuação da PF, que na sua visão foi tendenciosa desde o começo do caso. "Desde o início do inquérito, em outubro, já informaram que os dois seriam indiciados, como afirmar isso antes da investigação dos fatos e documentos ?", questiona Machado. O advogado reclama ainda sobre o tempo que a PF levou para intimar os dois executivos a depor. "Por que as notícias sobre a intimação deles só começaram a surgir quando sabidamente a Carla e o Daniel estavam em Londres, por conta do processo de arbitragem?", perguntou, acrescentando que isso levantou suspeitas desnecessárias sobre o fato de ambos estarem fora do país naquele momento. A advogada que representa a Kroll, Denise Garcia, disse que oito dos indiciados pela PF ainda são funcionários da empresa de investigações. Outros dez são prestadores de serviço e pessoas ligadas à Kroll. Denise não revelou os nomes, mas disse que cinco dos funcionários indiciados foram as pessoas presas durante a "Operação Chacal".(Colaborou Talita Moreira, de São Paulo)