Título: Citroën baixa cilindrada para vender mais
Autor: Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 14/04/2005, Empresas &, p. B7

A Citroën vai começar a produzir os automóveis C3 e Xsara Picasso - os dois veículos fabricados no Brasil - com motores de cilindrada reduzida. Mais do que diminuir a potência, o objetivo é baixar preços para aumentar vendas. Em penúltimo lugar entre os fabricantes de carros com produção no Brasil, a montadora francesa espera dobrar os volumes comercializados a partir da nova estratégia. O Xsara Picasso, veículo fabricado no Brasil e até agora disponível no mercado brasileiro apenas com motor 2.0, importado, começará a ser vendido em junho também na versão com motor 1.6 brasileiro. Com essa opção, o modelo poderá enfrentar melhor concorrentes como o Scénic, da Renault, já vendido com motor 1.6. A partir de julho, a Citroën colocará no mercado o seu compacto C3 com motor 1.4 produzido no Brasil. Hoje, a oferta do C3 se limita à versão 1.6, embora a montadora tenha importado alguns motores 1.4 da Europa para testar a demanda. Mas nesse caso, explica o presidente da Citroën, Sérgio Habib, a empresa opera com prejuízo. A versão mais barata do C3 1.6 custa R$ 37.670. O preço do mesmo carro com motor 1.4 cai para R$ 33.400. Com a possibilidade de usar o motor 1.4 produzido na fábrica brasileira, a empresa já programa aumentar a oferta dessa versão a partir de julho. Foto: Marisa Cauduro/Valor

Sérgio Habib, presidente da Citroën, muda a estratégia de motorização dos carros produzidos em Porto Real (RJ)

Habib calcula mais do que dobrar as vendas do C3 com o novo motor, das atuais 600 para 1.300 unidades por mês. Com expectativa semelhante em relação ao Picasso e o lançamento do importado C4 a partir de setembro, a montadora calcula avançar no mercado brasileiro sustentada pela mudança estratégica. Habib espera aumento de vendas de 27,94% já neste ano. O mercado brasileiro de veículos deverá crescer em torno de 7%, segundo projeções da indústria. A Citroën vendeu 21,1 mil veículos no Brasil em 2004, o que lhe rendeu participação de 1,42%. Entre as montadoras que mantém fábricas no Brasil, a Citroën está em penúltimo lugar, atrás apenas da Mitsubishi. A meta de Habib é chegar a 27 mil unidades neste ano, 34 mil em 2006 e 45 mil em 2007. Segundo ele, a empresa também vai ampliar a rede de concessionários de 60 para 74 pontos de venda. A montadora francesa também vai se render ao mercado dos carros bi-combustíveis. O modelo C3 fabricado no Brasil poderá rodar com álcool a partir de agosto. A Citroën utilizará tecnologia da Bosch para começar a fabricar carros que podem ser abastecidos com álcool, gasolina ou a mistura de ambos. No início , somente a versão 1.6 estará será vendida com motor bi-combustível. A partir de novembro, essa tecnologia estará disponível também na versão 2.4. Apesar da estratégia voltada à redução dos preços do C3 e Picasso, a Citroën vai manter, no entanto, a importação de modelos mais sofisticados. A montadora acaba de lançar o novo modelo C5, um carro que custa R$ 105 mil, importado da França. A partir de setembro, o mercado brasileiro receberá o modelo C4, também importado da França. "É um segmento em que as empresas deixaram de apresentar novidades", afirma o executivo. A Citroën vendeu 1,348 milhão de veículos em todo o mundo em 2004. Apesar de as vendas da companhia estarem concentradas na Europa, onde a marca tem participação de 7%, os projetos de expansão estão voltados, como nas demais montadoras, para os mercados com maior potencial de expansão. A participação do mercado francês nas vendas da montadora era 50% em 1982. Hoje, está em 25%. A fatia do restante da Europa aumentou de 46% para 56% no mesmo período e a dos demais mercados passou de 4% para 19%. A operação brasileira integra a estratégia do grupo francês de ampliar as operações fora da área de origem. Instalada em Porto Real (RJ), a fábrica brasileira do grupo PSA Peugeot Citroën foi inaugurada em fevereiro de 2001. A direção mundial do grupo projetou ocupar pelo menos 80% da capacidade da unidade neste ano. Além dos planos de aumento de vendas da Citroën, a outra marca que compartilha a mesma linha de produção na fábrica do o Rio, a Peugeot, também tem planos de crescimento. A montadora acaba de lançar uma perua derivada do modelo 206. Para atender aos programas de aumento do uso de motores nacionais o grupo investiu na linha de motores também instalada em Porto Real. Parte do investimento de US$ 50 milhões anunciado no ano passado foi utilizada na ampliação da capacidade da linha de 70 mil motores por ano para 120 mil até 2006.