Título: Ruralistas apelam à CPI contra alta dos insumos
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 14/04/2005, Agronegócios, p. B11

Esgotada a rodada de audiências públicas dedicadas a questionar os "excessivos" aumentos nos preços dos insumos agropecuários, a bancada ruralista decidiu partir para uma investigação detalhada do tema com a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). O presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, Ronaldo Caiado, afirmou ontem que a CPI investigará fabricantes de sementes, calcário, agrotóxicos, fertilizantes, vacinas, rações e máquinas agrícolas, além de minério de ferro e aço, para estabelecer os responsáveis pelos "aumentos abusivos" nos produtos e os repasses ao custo de produção da atividade. "Temos que dar um basta nessa situação. Produtor não é caloteiro e a sociedade tem que saber disso. Os vilões estão antes da porteira", disse ao Valor, em referência ao setor de insumos. Como argumento para explicar a proposta, Caiado citou a fragilidade dos depoimentos dos representantes do setor de insumos nas três audiências feitas pela comissão. "Ninguém avançou um milímetro. Não abriram suas planilhas de custo e não explicaram os porquês dos aumentos", afirmou. "Agora, terão que explicar". Um estudo feito pela Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar) sobre custos entre janeiro de 1999 e novembro de 2004, e usado por Caiado, revela aumentos de 86% nos preços de caminhões, 206% nas máquinas agrícolas, 295% no aço e até 250% nos agrotóxicos. Ontem, na última audiência pública, representantes de bancos públicos federais e de instituições privadas foram duramente questionados sobre as taxas cobradas nas operações de crédito rural. Em clima tenso, a deputada Kátia Abreu (PFL-TO) chegou a bater boca com o chefe do Departamento de Normas do Sistema Financeiro do Banco Central, Amaro de Oliveira Gomes. O embate foi causado pelas respostas consideradas "vazias" pela deputada. "Eles não querem responder nada", desabafou. Abreu questionava a cobrança de 4% da chamada "taxa flat" pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para liberar financiamentos nos programas de investimento. Ela também cobrou uma posição mais dura do BC sobre a taxa de 3% do "BB Agro" do Banco do Brasil. "A taxa foi instituída por uma resolução do BC, mas devia ser paga pelos fabricantes", defendeu-se o chefe da Área de Operações Indiretas do BNDES, Yoiti Abe. "A taxa do BB Agro também é para ser descontada das fábricas, mas vamos tentar restringir essa cobrança", afirmou Derci Alcântara, diretor de Agronegócios do BB. Para amenizar o clima tenso, o diretor do BB anunciou uma linha de R$ 500 milhões para a compra de insumos para a safra 2005/06. Mas os juros, tão criticados pelos ruralistas, devem ser da Cédula de Produto Rural (CPR), que ficariam em torno de 22% - bem longe, portanto, dos 8,75% exigidos pelos produtores. (MZ)