Título: Segregação difícil em Rio Grande
Autor: Marli Lima e Cibelle Bouças
Fonte: Valor Econômico, 14/04/2005, Agronegócios, p. B12

A soja transgênica está sendo exportada pelo porto gaúcho de Rio Grande sem rotulagem ou segregação porque os grãos já chegam misturados dos armazéns primários das cooperativas e cerealistas. A afirmação é do superintendente federal da Agricultura no Estado, Francisco Signor. Embora não seja obrigatória por lei, ele acredita que o Brasil deveria fazer a separação e informar os importadores, por uma questão de "credibilidade e honestidade". Conforme Signor, os três terminais privados que operam com soja em Rio Grande - Termasa/Tergrasa, Bunge e Bianchini - teriam condições de fazer embarques segregados se já recebessem a soja separada. Nesta safra 2004/05, 95% da soja produzida no Rio Grande do Sul é geneticamente modificada, ante 40% em 2003/04, calcula. O problema da segregação, diz Antônio Sartori, da corretora Brasoja, é que os investimentos necessários não compensam eventuais ganhos com a venda do produto convencional. "É um investimento muito alto e os importadores não estão preocupados se a soja é transgênica ou não", explica. Mas, mesmo com as portas de Rio Grande abertas aos transgênicos, neste ano as exportações de soja pelo porto deverão desabar em função da quebra da safra gaúcha provocada pela estiagem. Até a semana passada a colheita já havia coberto 28% da área plantada e, segundo a Emater-RS, a produção pode cair das 8,3 milhões de toneladas estimadas no plantio para menos de 3 milhões de toneladas. De acordo com especialistas, com a queda na safra e na qualidade dos grãos, os terminais de Rio Grande já se preparam para movimentar muito menos soja. O Valor procurou as três empresas que operam no porto para comentar o assunto, mas não obteve retorno. Francisco Signor promete agilizar o processo de fiscalização sanitária em Rio Grande para tentar ampliar o volume de soja movimentado. Fontes do setor afirmam, ainda, que o porto gaúcho não está conseguindo atrair cargas de Paranaguá porque há, sim, soja transgênica saindo por lá. A Superintendência Federal da Agricultura e o porto de Rio Grande não têm estatísticas sobre exportações de soja em abril, quando começou a colheita da temporada atual. Mas a queda nos volumes começou no fim de 2004, com a quebra da safra anterior, que ficou em 5,5 milhões de toneladas (ante 9,5 milhões em 2002/03) e a queda nas cotações internacionais da commodity. Segundo Signor, de outubro de 2004 a março último, os embarques de soja em Rio Grande alcançaram 121,1 mil toneladas, ante 835,1 mil no mesmo período entre 2002 e 2003.