Título: BB faz acordo com CUT e reduz taxas; Marinho diz que há gordura a cortar
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 14/04/2005, Finanças, p. C2

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o Banco do Brasil fecharam acordo para reduzir os juros cobrados no crédito consignado que, na visão da entidade sindical, abre um precedente para a revisão de todos os 33 contratos firmados com instituições financeiras desde 2003. "Esse acordo com o BB mostra que há gordura nas taxas de juros cobradas pelos bancos", disse o presidente da CUT, Luiz Marinho. Ele argumenta que, se há bancos vendendo carteiras de crédito consignado, é porque há lucro para mais de um nos juros. "A redução nas taxas no BB forçará os bancos a correr atrás." Com o novo acordo, as taxas irão variar entre 1,5% ao ano (empréstimos de até seis meses) a 2,4% ao mês (de 25 a 36 meses). Antes, havia taxas diferenciadas entre sindicalizados (de 1,75% a 2,60% ao mês) e para não-sindicalizados (2% a 3,3% ao mês). A lei que criou o crédito consignado (com desconto em folha), de 2003, coloca as centrais sindicais como intermediárias na negociação. Recentemente, afirmou Marinho, a CUT foi procurada por um banco, cujo nome ele não revelou, que pretendia elevar os juros previstos em contrato, alegando que seria necessário repassar aos clientes o aperto na política monetária. "Não queremos nem falar nisso." O recém-confirmado presidente do BB, Rossano Maranhão Pinto, procurou afastar a interpretação de que o banco esteja definindo uma taxa que atende mais a critérios políticos do que de negócios. "A taxa foi definida com critérios técnicos, para que o banco cumpra o seu papel entre os acionistas", disse Rossano. "É inexplicável a taxa de 6% a 7% ao mês que algumas instituições financeiras estão cobrando." O vice-presidente de varejo do BB, Edson Monteiro, disse que o corte de juros atende a uma estratégia mercadológica. "Queremos ampliar o volume de nossa carteira, do atual R$ 1,8 bilhão para R$ 3 bilhões", afirmou. Segundo ele, na primeira fase do acordo com a CUT as taxas foram mais elevadas porque o BB ainda estava aprendendo a lidar com o produto. De 2003 para cá, o BB constatou que a taxa de inadimplência nos empréstimos a trabalhadores da iniciativa privada é de apenas 0,2%. Não é um índice tão bom quanto o do funcionalismo (quase zero), mas é bem melhor do que a média de mercado (12,4%, segundo o Banco Central). Além disso, o BB criou uma infra-estrutura para conceder empréstimos em alta escala e com baixos custos. O banco ampliou o número de convênios, de 1.100 para 4.300 empresas, o que dá acesso a 6 milhões de clientes potenciais. Em maio, acrescentou Monteiro, os canais de distribuição do BB estarão abertos para atender diretamente também os trabalhadores não-clientes. Se o novo acordo assinado ontem tem o mérito de ter acabado com taxas de juros mais elevadas para não-sindicalizados, por outro cria uma taxa de abertura de crédito mais elevada a este público (R$ 30) do que para os sindicalizados (R$ 8). Antes, havia uma taxa única de R$ 20. O novo modelo, com um custo fixo mais alto, prejudica justamente os que tomam empréstimos menores. Marinho discorda que haja discriminação. "Discriminação seria se o não-associado ficasse de fora", disse. "Eles serão beneficiados tanto em relação ao que era cobrado antes quanto em relação à taxa de mercado."