Título: Diferentes razões explicam escolha das organizações
Autor: Carolina Mandl
Fonte: Valor Econômico, 18/04/2005, Brasil, p. A6

As organizações sociais de saúde (OSS) não podem ter fins lucrativos. Apesar disso, 13 destas entidades privadas administram hospitais do Estado de São Paulo. O que parece ser uma contradição, é explicado pelo fato de que o ganho para estas organizações não precisa ser necessariamente financeiro. Para as escolas, por exemplo, gerir um hospital significa ter um local para os estudantes residentes. A Universidade de Santo Amaro (Unisa) administra dois hospitais por esse motivo. "Antes disso, o hospital-escola era muito pequeno para receber todos os alunos e não tínhamos dinheiro para construir outro", explica Maria Cristina Cury, diretora da faculdade de medicina da Unisa, com 480 alunos. Em 1998, a escola optou por administrar o primeiro hospital estadual no Grajaú, bairro da zona sul próximo à faculdade. Aprovando o resultado, a Unisa pegou no ano passado o hospital de Francisco Morato, onde faz atendimentos mais graves do que no Grajaú. Já para organizações beneficentes, o retorno da administração de hospitais pode vir da chance de atender um maior número de pessoas sem ter de investir. "Tínhamos apenas um hospital em Itaquera e só com nossos recursos não poderíamos construir outros", diz Carlos Alberto Ferreira, diretor-administrativo da Associação Beneficente Santa Marcelina. De acordo com Ferreira, gerir serviços estaduais também facilita a comunicação da entidade com o governo. "É importante ser parceiro de alguém grande e importante. A qualquer problema, o Estado estará mais propenso a nos ouvir porque ele vivencia diversas experiências conosco e sabe como trabalhamos", afirma o diretor. Mas também pode haver ganhos financeiros para as entidades. O fato de o Estado arcar com todos os gastos dos hospitais depois de aprovar as despesas, livra as associações de prejuízos. As três unidades da Santa Marcelina atendem apenas ao Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com Ferreira, o hospital de Itaquera, único próprio da entidade, não consegue se manter com os recursos do governo e tem prejuízo de cerca de R$ 2 milhões por mês. "A tabela do SUS está desatualizada. Se os demais hospitais não recebessem dinheiro do Estado, só conseguiriam pagar 35% de suas despesas", afirma o diretor. Para a Sociedade Assistencial Bandeirantes, a vantagem de administrar a saúde no Estado é ganhar musculatura. "Quem não cresce desaparece", afirma João Antonio Aidar Coelho, diretor executivo do hospital regional do Vale do Paraíba, gerido pelo Bandeirantes. Com outros dois hospitais para administrar, a entidade ganha escala na hora de comprar materiais hospitalares e medicamentos.(CM)