Título: Partido quer manter os três Estados de seu reduto sulista
Autor: Sérgio Bueno, Marli Lima e Vanessa Jurgenfeld
Fonte: Valor Econômico, 18/04/2005, Política, p. A14

Nem o PMDB abre mão de sua mancha pemedebista no sul do país - o partido governa os três Estados da região - nem o PT dá sinais de desistir da cabeça-de-chapa. No Rio Grande do Sul, por exemplo, a aliança é considerada praticamente impossível por ambos os partidos. São adversários ferrenhos, em especial desde as privatizações do ex-governador Antônio Britto (PMDB). "O governador Rigotto é candidato natural", confirma o senador Pedro Simon, que também é defensor da candidatura própria do partido à Presidência. Ele não veria problema no apoio do PT, mas admite que "não há condições" para que isto aconteça mesmo que o PMDB apóie reeleição de Lula devido às "particularidades" do Estado. Dirigente da tendência petista DS e um dos pré-candidatos à direção nacional do PT, o deputado estadual Raul Pont diz que, se a direção nacional do PT tentar impor esta aproximação, estará "começando a destruir o PT no Estado". O presidente estadual do partido, Davi Stival, da Articulação de Esquerda, também considera a aliança "totalmente inviável". Para ele, uma composição como esta enfraqueceria o palanque para a campanha de Lula no Estado e poderia provocar nova onda de defecções no PT. A hipótese de um acordo unindo os dois partidos no Estado, com qualquer um deles na cabeça de chapa, também é considerada "impossível" pelo vice-presidente da executiva nacional do PMDB, deputado federal Eliseu Padilha. "O máximo que pode acontecer é o PT fazer pelo governador o mesmo que o PMDB faz pelo presidente Lula: garantir a governabilidade", afirma. A situação é um pouco menos conflituosa em Santa Catarina, mas de difícil consenso. Eurides Mescolotto, presidente do Besc, defende que o partido siga diretrizes nacionais. "O partido tem que fazer tudo o que for bom para a reeleição do presidente Lula", diz. Ao mesmo tempo, ele acha que o partido tem bons nomes locais e com fortes chances de uma candidatura própria de vulto em 2006, contrariando neste caso uma aliança do partido já em primeiro turno com o atual governador Luiz Henrique da Silveira, que tenta a reeleição pelo PMDB. Já o deputado estadual Vânio dos Santos (PT) considera um equívoco pensar que o partido poderá construir palanque para Lula por meio do governador Luiz Henrique da Silveira (PMDB) por sua proximidade com o PSDB. O PT apoiava Silveira até o ano passado, mas passou para a oposição - contrariando inclusive a executiva nacional - depois das eleições municipais, quando constatou a ligação forte entre Silveira e o PSDB. O PT tornou-se o maior partido de oposição e hoje tenta inclusive trancar na justiça um dos principais projetos de Silveira, o fundo social. O imbróglio estadual é tamanho que o presidente nacional do PT, José Genoino, veio ao Estado no último fim de semana a fim de participar de uma reunião regional e dar o recado de adiamento de qualquer decisão, já ciente do problema que uma posição local precipitada causaria. Estremecidos desde a eleição municipal, quando o governador Roberto Requião (PMDB) chegou a licenciar-se em campanha pelo candidato petista, Angelo Vanhoni, o PT e o PMDB paranaense dão poucos sinais de aproximação com vistas à disputa estadual. A ida do deputado federal Paulo Bernardo (PT-PR), que vinha se colocando como pré-candidato, para o Ministério do Planejamento, pode ter facilitado uma composição. Mesmo sem tê-lo como alternativa, o partido conta com outros nomes, como o presidente de Itaipu Binacional, Jorge Samek, e o senador Flávio Arns. Recentemente, o nome da mulher de Bernardo, Gleisi Hoffmann, diretora de Itaipu, também começou a ser cogitado. Antes mesmo de o candidato perder a disputa, o governador disse que não cobraria apoio em 2006. Nem por isso irá dispensá-lo. O chefe de gabinete de Requião, Vanderlei Iensen, diz que os pemedebistas têm interesse na aliança com o PT. "O cenário nacional é que vai dar os rumos", admite. Presidente do PT no Paraná, o deputado estadual André Vargas é um dos principais defensores da candidatura própria. Seu argumento é de que Lula precisa ter um palanque viável confiável. "O Requião é um dos principais críticos do presidente", afirma.