Título: Itamaraty insiste que houve falta de transparência, mas fica isolado na crítica
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 18/04/2005, Especial, p. A18

A grande questão na sexta-feira em Genebra era sobre qual seria a reação do Brasil se seu candidato fosse eliminado. Aceitaria a derrota imediatamente ou exigiria nova rodada de consulta?. O subsecretário de comércio do Itamaraty, embaixador Clodoaldo Hugueney, que chegara a mencionar essa possibilidade se o resultado não fosse suficientemente claro, chegou humorado e aparentemente relaxado na dede da OMC às 11h30 da sexta-feira para saber o resultado. Quinze minutos depois, descia as escadas avermelhado e rápido, buscando desesperadamente o crachá com o qual podia recuperar o passaporte na recepção. Nada falou. Pouco antes, ele tinha endurecido em vão o tom junto ao comitê de seleção. A chefe do comitê, a embaixadora do Quênia, Amina Chawadir Mohamed, limitou-se a informar-lhe que Seixas Corrêa tinha sido o candidato com menor aceitação para dirigir a OMC e estava fora. Ela disse que o uruguaio Castillo ficara na frente de Seixas "em tudo". Mas não detalhou como chegou ao resultado. Hugueney pediu para ver os números de votos. Ela recusou. Ele insistiu, e a recusa veio também dos embaixadores de Canadá e Noruega, igualmente membros do comitê. O brasileiro reclamou que o processo estava no limite do aceitável e que havia quebra de transparência. Mais tarde, na reunião com os 148 países-membros, Amina apontou os sobreviventes pela ordem de resultado: o francês Pascal Lamy, o representante da Ilha Mauricio, Jaya Krishna Cuttaree e o uruguaio Carlos Perez del Castillo. Hugueney insistiu na demanda dos números e sugeriu se dar tempo para as delegações refletirem melhor sobre as conseqüências da primeira rodada. A China e a Índia repetiram a reclamação sobre a transparência no processo. Mas a embaixadora do Quênia foi direta: se o Brasil quisesse saber quantos votos cada candidato teve, que pedisse diretamente aos países. E não podia perder tempo porque o processo tinha data para acabar (31 de maio). E anunciou que a segunda rodada de consultas começaria esta semana com os três sobreviventes. "Fomos eliminados no tapetão", reclamou perplexo um negociador brasileiro. Os outros países que falaram foi para apoiar o processo de seleção. Nenhum apoiou o Brasil. O Chile chegou a ser magnânimo: se era para ajudar no consenso, que se mostrasse os resultados do brasileiro. Um alto funcionário da OMC sugeriu irônico mais tarde: ´´O melhor para o Brasil é esquecer para não se decepcionar mais´´. O embaixador da China disse na saída: "Seixas está fora". Mas o indiano insistia: "Há algo suspeito aqui". Vários embaixadores lamentavam "a brutalidade" e o "sacrifício" de que Seixas acabou sendo vitima. Duas horas depois, em Brasília, o ministro Celso Amorim jogava a toalha de vez, insistindo nas acusações de falta de transparência. "O Brasil aprovou todo o procedimento de seleção, através do próprio Seixas em dezembro de 2002", retrucou um funcionário da OMC. Mas os brasileiros acham que houve mudanças de regras destinadas a "sacrificar" o Brasil. "O país cresceu demais na OMC e esta foi a oportunidade para dar-lhe uma bordoada", interpretava um negociador do G-20. (AM)