Título: Países propõem cobrar taxa em bilhetes aéreos para ajudar o desenvolvimento
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 18/04/2005, Finanças, p. C8

Brasil, Chile, Espanha, França e Alemanha propuseram a cobrança de uma taxa em bilhetes aéreos internacionais para arrecadar recursos para ajuda ao desenvolvimento. A proposta surgiu depois de uma rejeição geral à idéia inicial de criar uma taxa sobre o comércio de armas. Como não há consenso sobre a criação de taxas internacionais (Estados Unidos e Japão são contra), o Comitê de Desenvolvimento do Banco Mundial abriu a possibilidade de que países que concordem com uma determinada solução façam projetos-piloto para testá-la. Ainda não há detalhes sobre quando começaria a cobrança nem como ela seria operacionalizada. Também sem chegar a consenso, está previsto o lançamento de um bônus pelos países interessados para financiar campanhas de vacinação infantil, do qual participariam apenas alguns países interessados. "Essa reunião foi importante porque foi a última antes do encontro de setembro das Nações Unidas que avaliará a evolução das metas do milênio", disse o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, depois de deixar a última reunião, ontem. Consenso, mesmo, só sobre a falta de dinheiro para atingir as metas do milênio. E algumas conclusões surpreendentes: embora o total de ajuda dos países desenvolvidos tenha aumentado em termos nominais, considerando apenas a parte em dinheiro, está diminuindo, lembrou o economista-chefe do Banco Mundial, François Bourguignon. "Se você analisa as estatísticas de ajuda, apenas 25 ou 30% chegam em dinheiro aos países. O resto chega em consultorias ou pagamentos de emergência e outras coisas", disse o presidente do Bird, James Wolfensohn, durante um café da manhã com alguns jornalistas no qual tratou dos recursos destinados à educação. Dos países desenvolvidos, apenas cinco (Dinamarca, Luxemburgo, Holanda, Noruega e Suécia) atingiram os 0,7% do PIB em ajuda ao desenvolvimento prometidos durante a Cúpula de Monterrey, em 2000. Outros seis países (Bélgica, França, Finlândia, Irlanda, Espanha e Reino Unido) já têm previsão de médio e longo prazo para atingir esse objetivo. Todos os outros, incluindo Japão e Estados Unidos, estão longe e não têm prazo para atingir o objetivo. Os Estados Unidos, por exemplo, concederam apenas 0,1% do PIB em ajuda em 2003, e devem chegar apenas a 0,2% no ano que vem. O secretário do Tesouro, John Snow, disse ontem no discurso ao Comitê de Desenvolvimento que já dobrou a ajuda nos últimos anos, chegando a US$ 19 bilhões em 2004. O secretário reiterou sua oposição à criação de mecanismos alternativos de financiamento. A falta de disposição dos EUA para aumentar o volume de ajuda ficou clara no encontro organizado por Wolfensohn para discutir o problema da educação. Estavam presentes ministros da França, Reino Unido, Suécia e Noruega. O observador dos Estados Unidos era do "Council of Foreign Relations", sem relação com o governo. A América Latina é uma das regiões em maior atraso na redução da pobreza e provavelmente não atingirá a meta de reduzir à metade o nível de pobreza extrema. "Para atingir os objetivos, é necessário superar os níveis desapontadores de crescimento econômico da década de 90", diz o relatório do Banco Mundial, lembrando depois que o crescimento de 5,7% no ano passado prenuncia resultados melhores. Mas o Bird acredita que a região atinja outros objetivos como a redução da mortalidade infantil, acesso a agua potável e igualdade em educação entre os sexos. Também não houve acordo entre os ministros de Finanças no Comitê Financeiro e Monetário Internacional sobre a melhor maneira de conseguir recursos para o cancelamento da dívida de países pobres como nações africanas. O FMI prefere vender parte das reservas de ouro a fazer apenas uma reavaliação contábil, mas não houve acordo sobre o assunto entre os acionistas. O valor contábil das reservas é de US$ 9 bilhões, mas no mercado o ouro do FMI valeria US$ 45 bilhões. (TB)