Título: Cinco índices mostram recuo da inflação
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 06/10/2004, Brasil, p. A-3

Taxa medida pela Fipe subiu 0,21% no mês passado; sem energia, água e esgoto, alta ficaria em 0,10%

A desaceleração da inflação em setembro foi confirmada por cinco índices divulgados ontem e ocorreu principalmente pela deflação nos preços de alimentos. Em São Paulo, o índice de preços ao consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) ficou em 0,21%, abaixo das expectativas da entidade e no piso das previsões do mercado. Pela Fipe, o recuo de alimentos foi de 0,57%. O índice de custo de vida do Dieese caiu para 0,29%, frente 0,69% em agosto, enquanto o índice de preços no varejo, calculado pela Fecomercio, foi de 0,73% para 0,64% em setembro. Este foi o único indicador que não registrou uma variação negativa para o item alimentação. O recuo mais intenso foi captado por dois indicadores da Fundação Getúlio Vargas. O índice de preços ao consumidor semanal (IPC-S) registrou estabilidade e o referente à cidade do Rio de janeiro (IPC-RJ), teve leve queda de 0,03%.

Se não fosse a alta de dois preços administrados, energia elétrica (1,61%) e água e esgoto (1,62%), que contribuíram com 0,07 e 0,04 ponto percentual, respectivamente - metade do índice total - , a inflação medida pela Fipe em setembro ficaria em apenas 0,10%. A pressão seria ainda maior, se os aumentos não tivessem sido diluídos ao longo de setembro. Os preços administrados irão ser vilões novamente em outubro. A expectativa é de que o reajuste de água tenha impacto de 0,10 ponto percentual neste mês, enquanto que a contribuição da energia será zerada. Por outro lado, a telefonia fixa volta a incomodar, com 0,06 ponto percentual, seguida pelo reajuste nos condomínios, que traz mais 0,03 ponto percentual. Com isso, o piso de outubro fica em pelo menos 0,20% e a projeção para o fechamento chega a 0,40%. Além dos administrados, os industrializados também foram destaque de alta em setembro. O núcleo calculado pela Fipe vem numa trajetória ascendente desde agosto quando passou de 0,01% para 0,28%. No fechamento de setembro, alcançou 0,44%. Na análise dos economistas do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, esse movimento pode ser interpretado como sinal de maior "incidência de repasses do atacado para o varejo". Isso pode ser sentido especialmente nos produtos que têm aço, derivados de petróleo, produtos químicos, plásticos, madeira e borracha como matérias-primas. No entanto, segundo o Bradesco, a aceleração apenas marginal do núcleo por exclusão de alimentos e preços administrados, que foi de 0,31% para 0,34% em setembro, e do núcleo por médias aparadas, de 0,28% para 0,30%, "mostra que a intensidade dos repasses ainda é moderada". Paulo Picchetti, coordenador da pesquisa de preços da Fipe, afirma que apesar de estar em recuperação, a demanda doméstica ainda é fraca. Prova disso é a deflação de 0,32% nos preços de remédios, movimento que ocorre de forma generalizada dentre os produtos do mercado. "Após o reajuste dado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), as farmácias tiveram que realizar descontos e promoção, pois o poder aquisitivo dos consumidores ainda está deprimido", comenta. Foco de preocupação para o coordenador é o futuro incerto do preços dos derivados de petróleo no mercado interno. Com o fim das eleições e a proximidade do dia 15, crescem as chances de um reajuste pela Petrobras, acredita Picchetti. Numa simulação de aumento de 10% na bomba de gasolina, já no dia 15, o impacto para a inflação seria de 0,30 ponto percentual, dividido entre outubro e novembro. Haveria ainda o impacto indireto, que chegaria a 0,16 ponto nos próximos três meses. Se isso ocorrer, a projeção da Fipe de uma inflação de 6% no fechamento do ano irá mudar. "Ela estouraria em 0,50%', calcula Picchetti.