Título: Empresários preferem nova comissão a um "mau acordo"
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 06/10/2004, Brasil, p. A-5

Os empresários exportadores reunidos na Coalizão Empresarial deram ontem apoio ao governo na decisão de rejeitar a proposta apresentada na semana passada pelos europeus para o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Européia. Foram além: afirmaram que defendem a continuidade das negociações, mas que só uma reviravolta política poderia garantir um acordo aceitável até o prazo de 31 de outubro, quando será substituída a atual Comissão Européia, braço executivo da UE. "É melhor continuar a negociação com a nova Comissão Européia que está em vias de ser empossada do que fechar um mau acordo", resumiu a Confederação Nacional da Indústria (CNI), em nota oficial divulgada após reunião. Ontem, os empresários não conheciam, o novo aceno da UE feito pelo negociador Karl Falkenberg. Ao fim da reunião, o chefe dos negociadores, embaixador Régis Arslanian, pediu aos empresários que evitassem criticar publicamente as decisões do governo, para não enfraquecer os diplomatas na mesa de negociação, e garantiu que há espaço para melhorar as propostas do Mercosul à UE, caso se constate disposição semelhante do lado europeu. Os empresários da Coalizão consideram inaceitáveis algumas exigências da UE, que contrariam pré-condições estabelecidas pelo Mercosul desde 2001. Entre as pré-condições desrespeitadas pela UE está a inclusão, no acordo de livre comércio, de mercadorias fabricadas em regime de draw-back (com produtos importados a tarifa zero, para re-exportação). Os europeus não aceitam o draw-back no acordo. A UE também se recusa a discutir sua decisão de incorporar no acordo as normas de origem européia, que permitiriam a venda, ao Mercosul, como se fossem produtos europeus, de mercadorias fabricadas com matéria-prima de países beneficiados pelo Sistema Geral de Preferência, como o algodão egípcio, ou peças e partes fabricadas em ex-colônias para montagem de aparelhos eletrônicos nos países europeus. Os empresários consideram essencial discutir normas de origem específicas para o acordo Mercosul-UE. Apesar do apoio, os empresários fizeram críticas aos rumos da negociação. Eles se queixaram de que, em muitos setores, as propostas do Mercosul foram mais tímidas do que deveriam, para acomodar o protecionismo argentino. O coordenador da Coalizão Empresarial, Oswaldo Douat, contemporiza. "Os argentinos vivem hoje uma situação complicada, e temos de decidir se colaboramos ou levamos o bloco a um impasse", disse. Presente à reunião, o presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Gilvan Viana Rodrigues, reconheceu que a última proposta da UE era inaceitável, por conter exigências como o parcelamento em dez anos das cotas para produtos agrícolas e a decisão de deixar com os importadores europeus a administração das cotas.