Título: Moreira Franco renuncia para derrotar PT em Niterói e fortalecer Garotinho
Autor: Janaina Vilella
Fonte: Valor Econômico, 06/10/2004, Política, p. A-6

A renúncia do candidato do PMDB à Prefeitura de Niterói, Moreira Franco, anunciada ontem pode ser interpretada como uma grande manobra política que envolveu integrantes do PMDB e o PDT. O gesto surpreendeu os meios políticos fluminenses. Moreira anunciou logo cedo sua desistência à disputa pelo segundo turno das eleições municipais com o atual prefeito da cidade, Godofredo Pinto (PT). O político justificou a decisão inusitada alegando que a "população já manifestou nas urnas, com o resultado do primeiro turno, sua aprovação ao atual governo". "Não é por conta de uma filigrana jurídica que obriga o candidato a ter 50% mais um voto que vou expor a população ao desgaste de mais um mês de campanha. Uma eleição tem custo administrativo. Não quero paralisar a cidade por mais um mês", afirmou Moreira. Conforme decisão do TRE, com a saída de Moreira, o novo adversário de Pinto será o candidato do PDT, João Sampaio, terceiro na disputa com 36.721 votos válidos. Mas fontes do PMDB, em Brasília, informaram ao Valorque a manobra visou a derrota do PT em Niterói e o fortalecimento de Anthony Garotinho na corrida para 2006. Pinto conquistou no primeiro turno 47,98% dos votos válidos, enquanto Moreira Franco ficou com 22,48%. "Foi um grande acordo com João Sampaio do PDT. Moreira desistiu da candidatura depois de uma reunião na noite de segunda-feira com Garotinho, Rosinha e o senador Sérgio Cabral Filho. Percebeu que sua rejeição era intransponível e Garotinho, por sua vez, considerou que o PDT é um item fundamental na sua cesta básica para próxima eleição presidencial", alertou um interlocutor envolvido nas negociações, que preferiu o anonimato. A iniciativa do ex-prefeito de Niterói tem endereço certo: fortalecer a aliança PDT/PMDB contra Cesar Maia, um perigoso obstáculo aos planos de Garotinho. Sampaio admitiu que teve um encontro com Garotinho para costurar um possível apoio. O candidato do PDT disse que aceita a participação de Garotinho e da governadora do Rio, Rosinha Matheus, na campanha, mas que só vai comentar a oficialização da aliança hoje, após uma reunião com o PMDB. Ele considera quase impossível derrotar o atual prefeito de Niterói no segundo turno. Em entrevista coletiva ontem, o candidato petista se mostrou surpreso com a decisão de Moreira. "Recebo a decisão com grande surpresa. É um fato inusitado e sem precedentes. Estou surpreso, mas satisfeito pelo reconhecimento do concorrente pelo bom trabalho que venho realizando na cidade", afirmou Pinto. O presidente do TRE-RJ, Marcus Faver, disse que a Lei 9.504/97, prevê, no seu artigo segundo, parágrafo segundo, que se um dos candidatos desistir ou falecer, será chamado o terceiro colocado", explicou Filinto. Moreira reagiu dizendo que a renúncia "não é jogo político". Ele destacou que não fez "avaliação de natureza política e eleitoral para tomar sua decisão" e disse que só vai se pronunciar sobre um possível apoio a João Sampaio nos próximos dias. Cientistas políticos interpretaram que a estratégia de Moreira era apoiar Sampaio com vistas a ter, em caso de vitória do candidato, poder de barganha política junto ao futuro prefeito. Afirmaram ainda que seu gesto foi uma maneira de "asfaltar" o terreno para a possível volta de Anthony Garotinho, de quem é aliado no PMDB, aos braços do PDT. O professor da PUC-RJ, Cesar Romero Jacob, também avalia que a escolha de Moreira pode ter sido uma "jogada política do partido" para derrotar o PT no município e dar a vitória ao PDT". "Apoiando João Sampaio, Garotinho preserva o Moreira e eventualmente garante o apoio de Jorge Roberto da Silveira (PDT) contra o PT. É uma estratégia mais que original para evitar a perda de mais um município no Estado", argumenta Jacob.