Título: Lisboa diz que não há contradição entre mudanças no crédito e política de juros
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 15/04/2005, Brasil, p. A3

O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Marcos Lisboa, rechaçou ontem a idéia de que as medidas de estímulo ao mercado de crédito adotadas pelo governo e a política monetária são contraditórias. "O Estado não está criando crédito. Isso é uma diferença importante. O que o governo fez foi dar estrutura para que o mercado possa se desenvolver. Isso aumenta a capacidade de crescimento da economia", afirmou ele, referindo-se a medidas como o crédito com desconto em folha de pagamento, que elevou significativamente o volume de empréstimos nos últimos meses. Lisboa rebateu a tese de que a recente expansão de crédito, proporcionada pelas regras adotadas pelo governo, acaba por reduzir a eficácia da alta de juros promovida pelo Banco Central (BC) desde setembro. Ele participou do seminário Perspectivas da Economia Brasileira: Agenda para o Crescimento, promovido pela Tendências Consultoria Integrada. Lisboa falou da agenda de reformas microeconômicas promovida pelo governo, como as mudanças feitas no mercado de crédito e as medidas visando a redução do custo de conflitos, como a lei de falências. Ao comentar as alterações ocorridas na administração Lula, ele lembrou que o volume de empréstimos aumentou 31% no ano passado, acrescentando que isso tem provocado comentários sobre uma suposta "incoerência" entre esse movimento e a política de curto prazo conduzida pelo Banco Central. Segundo Lisboa, as mudanças no crédito visaram a ampliação da capacidade de crescimento da economia, não havendo contradição entre elas e a política de juros do BC. Para ele, essa idéia não cabe nem mesmo na "velha concepção de política monetária", definida por Lisboa como aquela em que o BC procura corrigir um possível desvio do comportamento de curto prazo entre o crescimento efetivo da economia e o potencial (o que não causa pressões inflacionárias nem desequilíbrios nas contas externas). "O Estado não criou crédito. Não é o governo rodando a maquininha e fazendo uma expansão. O governo criou condições para que pessoas e bancos possam negociar crédito de forma mais segura, afirmou ele. "Isso significa maior eficiência, maior produtividade e maior crescimento", ponderou o secretário, durante sua palestra.