Título: Indústria paulista cria novas vagas em março, mas ritmo desacelera
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 15/04/2005, Brasil, p. A3

A indústria paulista criou novos postos de trabalho pelo terceiro mês consecutivo. Em março, foram geradas 9,2 mil vagas, uma alta de 0,27% sobre o mês anterior, segundo cálculo que retira os efeitos temporais. Na comparação com março de 2004, os dados são fortes e apontam para um crescimento de 6,7%. No acumulado dos últimos 12 meses, o percentual chega a 6,53% ou 129,2 mil novas vagas. Em 2005, no entanto, o emprego industrial acumula um aumento de 1,5%, o que equivale a mais 30,4 mil postos. É uma taxa inferior às verificadas nos primeiros trimestres dos últimos anos. Em 2004, por exemplo, o nível de emprego acumulava alta de 2,41% neste período e, em 2003, a variação era de 1,62%.

Na análise do diretor do departamento de economia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Francini, os dados indicam "claramente um declínio no ritmo da geração de empregos na indústria". Para ele, é evidente que a indústria está perdendo seu vigor. Segundo Francini, "não seria surpresa se nos próximos meses (abril e maio) a geração de empregos fique próxima a zero". O fato de 20 sindicatos dentre os 47 consultados pela Fiesp terem mostrado desempenho negativo no nível de emprego também é visto pelo diretor como sinal de desaceleração da indústria paulista. Este número é o pior desde dezembro do ano passado, quando 23 sindicatos mais demitiram do que contrataram. Na outra ponta, em março, 17 setores tiveram resultado positivo, menor quantidade desde dezembro de 2003, quando 16 ramos industriais as contratações superaram as demissões. No entanto, para o economista Sergio Vale, da MB Associados, o que ocorreu neste primeiro trimestre do ano foi uma "parada estratégica da indústria". Após a queda de 1,2% na produção industrial em fevereiro, ele espera aumento de 0,8% nesse indicador entre março e o mês anterior. A partir do próximo trimestre, a indústria deve voltar a crescer de maneira mais forte, mas ainda atrelada às exportações. Para Vale, "o cenário doméstico está um pouco deteriorado e o nível de investimento não vai crescer muito neste ano". O economista prevê uma alta na taxa de formação bruta de capital fixo de 5,6%, número superior à previsão do início do ano (7,4%). É a produção voltada para o mercado externo que tem dado mais fôlego ao mercado de trabalho. Em março, a maior variação no nível de empregos ocorreu no setor de curtimento de couro e peles, com alta de 3,59%. De acordo com o diretor da Fiesp, a parte desse setor voltada para a exportação tem ido muito bem, o que compensa as perdas de quem fornece para o mercado interno e utiliza o couro na fabricação de sapatos. O setor de calçados, aliás, é o que mais tem sofrido com a valorização do câmbio, segundo a pesquisa da entidade. No mês passado, a indústria calçadista de Franca reduziu o número de empregos em 2,2%, enquanto que as demais produtoras do Estado de São Paulo tiveram queda de 0,61%. Em fevereiro, as variações tinham sido negativas em 2,86% e 0,4%, respectivamente.