Título: Construtoras já planejam retorno ao continente
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 15/04/2005, Brasil, p. A4

A democratização em alguns países da África, a criação de novos mecanismos de financiamento, como o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), e a política de aproximação do governo com os países africanos estão motivando grandes construtoras a voltar para o mercado daquele continente. Na pequena comitiva de apenas sete empresários que acompanhou a visita do presidente Luís Inácio Lula da Silva a cinco países da África Continental, dois eram de empreiteiras, a Andrade Gutierrez e a Camargo Corrêa. Ambos com contratos em vista em pelo menos dois dos países visitados e grande interesse em ampliar a presença nas obras da região, se possível com apoio do BNDES. A construção de um gasoduto de 670 quilômetros, capaz de fornecer diariamente 200 milhões de pés cúbicos de gás para futuras termelétricas e indústrias no Togo, Benin e Gana, é cobiçada pela Camargo Corrêa. O gasoduto será de responsabilidade da Chevron, da Companhia de Petróleo da Nigéria e da Shell e o que a Camargo Corrêa quer é aproveitar a experiência adquirida com a construção do gasoduto Brasil-Bolívia para credenciar-se, com os investidores, como responsável pela construção desse gasoduto africano. A empresa responsável pelo contrato, a West African Gas Pipeline Company (Wapco), já está na fase de licenciamento ambiental, e calcula em US$ 500 milhões o investimento total na obra. "A Camargo não tem operações na África, mas nosso objetivo é nos tornarmos uma grande empresa exportadora de serviços", disse ao Valor o consultor da empresa Antonio Carlos de Almeida Portugal, que participou da comitiva de Lula . "A base do projeto, a inteligência, pode vir do Brasil", comenta. Durante a viagem, Portugal discutiu também os planos do governo de Gana para construção de uma hidrelétrica no país, para a qual o governo ganense sondou a Camargo como possível responsável pelo planejamento, busca de investidores e construção. "A visita criou ambiente para discutir melhor o assunto com o governo de Gana; grande parte do financiamento poderia vir do BNDES", sonha Portugal. Lula, em diversos discursos durante a visita, fez questão de falar aos chefes de Estado que o recepcionaram sobre o interesse em promover a venda de serviços das empresas brasileiras. Ele começou a promoção das empreiteiras brasileiras já na primeira escala da viagem, no Camarões, onde a única empresa brasileira com representação local é exatamente uma construtora, a Andrade Gutierrez. Na África desde os anos 80, a empresa enfrentou problemas com inadimplência em alguns países, mas a recente reestruturação das atividades internacionais da companhia levou sua subsidiária em Portugal, a Zagope, a explorar com maior interesse as oportunidades africanas. Em Camarões, a Andrade é subcontratada por uma empresa grega (os europeus, com melhores condições de financiamento e garantia, e maior proximidade com os governos locais, têm maior competitividade nas licitações) e é responsável pela construção de uma estrada em um trecho íngreme de encosta, num investimento de aproximadamente 21,22 milhões de euros. "Temos vantagens comparativas, como a experiência com o trabalho em florestas tropicais, em locais com temporadas de fortes chuvas", lembra o diretor-executivo de relações internacionais da Andrade Gutierrez, Flávio Machado Filho, outro integrante da comitiva presidencial. "Estamos iniciando uma nova fase na África", anuncia, entusiasmado com o surgimento de fundos de países árabes para investimento na região e alternativas como o BAD, que financia a estrada em Camarões. O financiamento do BAD, equivalente a 90% da obra, tem funcionado como uma garantia contra inadimplência, informam os funcionários da Andrade Gutierrez encarregados das operações africanas. (SL)