Título: Comércio mundial crescerá menos em 2005, diz a OMC
Autor: Agências internacionais
Fonte: Valor Econômico, 15/04/2005, Internacional, p. A9

A participação dos países em desenvolvimento no comércio mundial cresceu de forma significativa em 2004, atingindo 31%, o maior patamar desde 1950, informou ontem a Organização Mundial de Comércio (OMC), em Genebra. Não foram divulgados dados de anos anteriores. África e América Latina tiveram, cada qual, um incremento de 30% no comércio.

Mas o bom ritmo de negócios, seja de países desenvolvidos ou em desenvolvimento, não deverá se repetir em 2005. A desaceleração da economia mundial deverá ter um impacto negativo no comércio. Para este ano, a OMC prevê que o ritmo de crescimento vai cair pela primeira vez desde 2001. Os economistas da OMC estimam que o valor dos produtos comercializados crescerá 6,5% este ano, ganho menor do que os 9% de 2004, quando o valor movimentado pelo comércio global saltou para US$ 8,9 trilhões. A previsão da OMC, somada a temores de que a economia mundial não esteja crescendo tanto quanto se esperava, teve impacto negativo nos mercados financeiros. O risco-país do Brasil subiu, e a bolsa caiu. "A expansão do comércio ainda é prejudicada por barreiras que devem ser eliminadas", disse o diretor-geral da OMC, Supachai Panitchpakdi, acrescentando que a melhor maneira de lidar com as barreiras é por meio das negociações mundiais sobre o comércio. A alta dos preços do petróleo e das taxas de juros irão contribuir para a desaceleração comercial deste ano - a indústria já prevê "desaquecimento pronunciado" nos setores de equipamento para telecomunicações e informática. Na quarta-feira, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o FMI reduziram suas estimativas para a expansão econômica do Japão e da Europa, que respondem por quase metade das exportações mundiais, em meio à volatilidade dos preços do petróleo.

Seja como for, 2004 foi um ano bom para os embarques internacionais. Chama a atenção no relatório o vertiginoso crescimento da África. Ajudada pela alta dos preços das commodities, as exportações africanas cresceram 30%, mesmo percentual registrado na América Latina. "As exportações da África cresceram a um percentual expressivo no ano passado, depois de terem registrado forte alta em 2003", comentou Supachai. "Em grande parte devido à alta das commodities, foi o maior crescimento desde 1980. Mas o crescimento das exportações também está associado com a melhora na produção, que aumentou 4% no continente em 2004. A previsão é de que esse crescimento se mantenha em 2005." A alta de dois dígitos nos embarques mundiais de telefones celulares, câmeras digitais, semicondutores e computadores pessoais impulsionou o resultado de diversos países da Ásia, que fechou 2004 com um volume comercial 14,5% maior que no ano anterior. Os produtos eletrônicos representaram um terço das exportações chinesas e entre um terço e dois terços dos embarques de Cingapura, Malásia, Taiwan, Filipinas e Coréia do Sul.

Pela primeira vez, a China passou o Japão no posto de terceiro colocado do ranking de comércio. A alta das exportações no ano passado foi liderada pelo incremento de 45% das vendas de eletrônicos, segundo o economista-chefe da OMC, Michael Finger. Já as exportações de têxteis e roupas, que representam menos de 10% das exportações chinesas, cresceram entre 15% e 17% em valor, em 2004. Os EUA, que foram superados pela Alemanha na posição de maior exportador mundial em 2003, responderam por 9% das exportações do mundo e por 16% das importações em 2004. Cada um desses fluxos comerciais totalizou, respectivamente, US$ 819 bilhões e US$ 1,5 trilhão, disse a OMC. A UE registrou o menor aumento mundial das importações e das exportações em 2004. O euro teve valorização de 8% em relação ao dólar no ano passado, fato que elevou o custo das exportações dos 12 países que utilizam a moeda.