Título: Atuação de d. Cláudio é contestada por grupo de padres progressistas
Autor: Dermi Azevedo
Fonte: Valor Econômico, 15/04/2005, Especial, p. A12

Insatisfeitos com o cardeal arcebispo de São Paulo, d. Cláudio Hummes, cerca de 100 padres do clero paulistano publicaram, em dezembro passado, um documento em que qualificam o cardeal como um administrador "autoritário e centralizador". Incluído entre os principais favoritos à sucessão do papa João Paulo II, Hummes reagiu com uma carta sigilosa dirigida aos padres, dizendo-se "difamado" e perdoando a quem o atacou no escuro, além de pedir a unidade da Igreja. "É com satisfação e com sofrimento que lhes escrevo - afirma o cardeal - mas perdôo quem me atacou no escuro. Senti-me difamado. Mas me consola e me orienta o Salmo 36: 'Deixa aos cuidados do Senhor o teu destino; confia nele e com certeza ele agirá'. Peço apenas aos caros padres que se mantenham unidos ao seu arcebispo, apesar dos limites humanos dele, pois a unidade da Igreja requer esta união, como nos diz nossa fé. E perdoem-me se alguma vez faltei". O manifesto do clero (um terço dos 363 padres da Arquidiocese de São Paulo) representa uma reação a diversas medidas consideradas conservadoras de d. Cláudio, desde que sucedeu ao seu confrade franciscano d. Paulo Evaristo Arns, em 1998. Recentemente, Hummes determinou uma mudança de caráter disciplinar que provocou insatisfação no clero: limitou a celebração de confissões comunitárias, que só poderão ser realizadas em situações catastróficas e determinou que os católicos paulistanos se confessem individualmente, junto aos padres, pelo menos uma vez por ano. As novas normas, que segundo alguns teólogos, remontam ao período anterior ao Concílio de Trento (século XVI), também determinam, que nas confissões comunitárias, só podem ser absolvidos os chamados "pecados veniais" (leves) e que se algum participante tiver cometido um "pecado mortal" necessariamente deverá procurar um padre para confessar-se. Os padres que fizeram o documento com críticas ao cardeal decidiram não publicar sua identidade, "uma vez que não existe mais o necessário clima de confiança entre nós". Destacam que o modelo de Igreja adotado pelo atual governo arquidiocesano baseia-se em "anacrônicos, mas eficientes métodos de coerção, perseguição e mal disfarçados atos de autoritarismo". Identificam, na arquidiocese paulistana, uma "estrutura despótica de poder" e afirmam que os bispos auxiliares foram transformados em "meninos de recado, tensos, inseguros e sem alternativas". Acusam também o cardeal de ter desmobilizado as "estruturas democráticas de consulta" e de procurar "silenciar toda a adversidade e criatividade, até que esteja governando uma Igreja conformista e conveniente, com as pompas do neo-triunfalismo". Segundo os padres, a CNBB não elegeu d. Cláudio, até agora, para nenhuma função importante, sendo considerado "um azarão eleitoral". Afirmam, porém, que acreditam na "conversão" de d. Cláudio. Padres que não assinaram o documento disseram ao Valor que, em linhas gerais, as críticas contidas no documento de seus colegas, "estão corretas". Discordaram de sua publicação e destacaram que muitas atitudes do cardeal estão ligadas às características de sua personalidade. D. Cláudio é descrito, pelos padres que o apóiam, como um homem introvertido, estudioso e seguro das suas posições. É descrito, por eles, como "conservador" nas questões doutrinárias e disciplinares da Igreja e "progressista" nos temas sociais, econômicos e políticos. Recentemente, d. Cláudio participou de um ato público na Praça da Sé, centro paulistano, em protesto contra o assassinato de moradores de rua. Continua amigo de Lula e, de vez em quando, visita o seu antecessor, o cardeal Arns, a quem pede conselhos. Foi o que aconteceu na semana passada antes de viajar para o Vaticano onde foi participar do conclave para eleger o novo papa. Nas horas vagas faz higiene mental caminhando ou tocando violino. Depois de deixar a diocese de Santo André, em 1996, d. Cláudio foi transferido para Fortaleza, onde permaneceu durante dois anos. Sua atuação também foi criticada por setores do clero que nele identificaram mudanças de posição, do progressismo para o conservadorismo. Ainda hoje, criticam o pouco tempo que Hummes passou no Ceará, atribuindo-lhe a responsabilidade por ter prejudicado o planejamento pastoral arquidiocesano. (DA)