Título: Um quarto do episcopado no Brasil é de estrangeiros
Autor: Dermi Azevedo
Fonte: Valor Econômico, 15/04/2005, Especial, p. A12

O retorno do clericalismo, a atuação de movimentos católicos conservadores e o uso de métodos pedagógicos considerados ultrapassados nos seminários, são algumas das situações que os cerca de 18 mil padres brasileiros gostariam que fossem enfrentadas pelo novo Papa. É o que indicam estudos e relatórios de pesquisas, preparados para a CNBB e levados pelos cardeais brasileiros para uma atenta leitura em Roma durante o conclave que elegerá, a partir do dia 18, o sucessor de João Paulo II. Os bispos do Brasil e da América Latina vêem, com preocupação, um quadro de crise na auto-estima do clero, justamente no momento em que novas religiões e igrejas disputam, com o catolicismo, a preferência da população. Pesquisas em poder da Igreja indicam que os padres são, em grande parte, os responsáveis pela boa imagem dessa instituição junto à opinião pública. Ele são também a principal fonte de informação para os bispos e para a governabilidade do sistema eclesiástico. Quanto ao perfil ideológico dos 416 bispos brasileiros, as pesquisas indicam que o episcopado assume, cada vez mais, uma posição moderada de centro, deixando, como minorias, os progressistas e os conservadores. Os relatórios da CNBB revelam ainda, que, sem o trabalho de bispos, padres e religiosos estrangeiros, dificilmente a Igreja Católica no Brasil conseguirá atingir as suas metas pastorais. São estrangeiros de nascimento, 101 dos 416 bispos brasileiros. Entre os europeus, atuam no país 47 bispos italianos, 12 alemães e 12 espanhóis, além de portugueses, poloneses, austríacos, belgas, malteses e suíços. São americanos seis bispos, havendo, também, dois libaneses, dois malteses, um de Taiwan, um do Egito e um mexicano. Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, são os Estados em que mais nasceram bispos, num total de 215, seguindo-se o Ceará e Pernambuco (26), o Rio de Janeiro (12), a Bahia e o Paraná (10 cada um) e outros estados do Nordeste e do Centro-Oeste. Os bispos pertencentes a ordens e congregações religiosas são 148, dos quais 52 pertencem a ordens franciscanas. Nesse universo, causa preocupação aos integrantes das pastorais sociais da CNBB a ocupação progressiva de espaços de poder, na Igreja do Brasil, por parte da organização conservadora Opus Dei. Fundada na Espanha, durante o franquismo pelo padre Escrivá de Balaguer (diretor espiritual do ditador Francisco Franco e de sua esposa, além de amigo do general Augusto Pinochet), a Opus é uma prelatura pessoal do papa, ou seja, está diretamente vinculada ao Papado e tem forte presença no Brasil, nas áreas financeira, jurídica, política e universitária. Conta com três tipos de integrantes: os numerários (que são celibatários e fazem votos de pobreza, castidade e obediência, além de destinarem todo o seu salário para a Opus); os supra-numerários (pessoas casadas que representam a face visível da organização) e os agregados (pessoas sem formação universitária que também trabalham para a Obra). São chamados de cooperadores os simpatizantes da Opus Dei que não quiseram ou não puderam ser membros. O poder da Opus Dei aumentou depois da eleição do papa João Paulo II, que costumava visitar sua sede, em Roma, quando era cardeal em Cracóvia. A Obra foi encarregada, pelo papa, de participar da arrecadação de fundos, junto a grandes empresários, para cobrir o déficit orçamentário do Vaticano. Os seus dois representantes no conclave que escolherá o novo papa são os cardeais Juan Luis Cipriani, do Peru (que participou das negociações entre o governo Fujimori e os invasores da embaixada do Japão em Lima) e Alfonso López Trujillo, responsável pelo Conselho Pontifício para a Família, no Vaticano. No Brasil, uma das principais metas da Opus Dei é a ampliação do seu quadro de representantes na CNBB. Sua principal base é a Arquidiocese do Rio de Janeiro para onde foi nomeado recentemente, como bispo auxiliar, um padre da Obra, Antônio Augusto Dias Duarte. Em São Paulo, um dos objetivos da Opus Dei seria o de assumir o controle financeiro da PUC para livrá-la das constantes dívidas e para dar-lhe uma orientação acadêmica dentro de sua linha de pensamento. Propostas nesse sentido teriam sido feitas aos cardeais Paulo Evaristo Arns e Cláudio Hummes, que as teriam recusado. (DA)