Título: Mercado não define consenso sobre a próxima reunião do Copom do BC
Autor: Luiz Sérgio Guimarães e Maria Christina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 15/04/2005, Finanças, p. C2

Os analistas do mercado financeiro estão divididos em relação ao provável resultado da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, marcada para quarta-feira da semana que vem. Metade dos 14 analistas consultados ontem pelo Valor, aposta em interrupção do ciclo de altas da taxa Selic, iniciado em setembro do ano passado. O juro básico permaneceria estável nos atuais 19,25%. Os outros sete acreditam em nova alta, mas, entre estes, não há consenso sobre a magnitude do aumento. Após sete altas consecutivas do juro básico, a política monetária exibe sinais de "fatiga de material", na opinião do economista-chefe do Banco Pátria, Luis Fernando Lopes. O Copom não tem como subir o juro, e não é porque a inflação se encaminha à meta de 5,1%. Pelo contrário. As pressões oriundas de tarifas e choques de oferta já deslocam os prognósticos de IPCA para um ponto acima da meta. Mas a reafirmação explícita do compromisso com a meta implicaria o pagamento de custos elevados em termos de dívida pública, produção, emprego e renda. E o BC já mostrou que não pagará. "O BC só subirá de novo o juro se o mercado internacional surtar, se houver um cataclisma de vastas proporções", acredita Lopes. Não é o caso por enquanto. O economista não comunga, porém, da impressão geral de que, interrompida agora a trajetória de alta da Selic, a taxa poderá voltar a cair no segundo ou terceiro trimestre do ano. "O juro vai ficar estacionado em 19,25% por prazo muito longo. Se cair, será lá para novembro. Mas logo se perceberá que a meta de inflação para 2006 também se mostrará irrealista. Como baixar juro nessa conjuntura?", pergunta ele. O economista Hugo Penteado, da ABN Amro Asset, concorda que tudo o que o BC poderia fazer para tentar equilibrar demanda e oferta ele fez. Já está na hora de parar de subir o juro. E o equilíbrio foi alcançado com sucesso. Não só a demanda não preocupa mais como já se constata uma ampliação da oferta. "A capacidade ociosa da indústria cresce atualmente não por força de uma retração de demanda, mas de uma oferta maior, sinal de que foram feitos investimentos produtivos", diz Penteado. O Copom não pode continuar elevando a Selic para conter ajustes de preço procedentes de choques contra os quais a política monetária nada pode fazer. O juro só não voltará a cair em outubro se houver uma intensificação da alta do petróleo ou se não ocorrer a maturação dos investimentos produtivos. Nesses casos, o juro teria de permanecer elevado para conter os efeitos secundários sobre a inflação dessa conjuntura negativa. O economista da distribuidora Pentágono, Marcelo Ribeiro, não descarta a possibilidade de o Copom já agir na semana que vem preventivamente, elevando a Selic a 19,75%, não em função das pressões pontuais à inflação, mas do cenário externo que subitamente trocou o medo ao Fed agressivo pelo receio de um esfriamento global. O economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa, também trabalha com a projeção de Selic a 19,75% mas por razão interna. Pela sua análise, a dinâmica econômica atual está permitindo às empresas repassar os aumentos de custos derivados dos choques de oferta e dos preços administrados. Tanto que os bancos estão revendo para cima as suas expectativas para o IPCA de abril, da faixa de 0,60% a 0,65% para o degrau de 0,75% a 0,85%. Mas uma nova alta da Selic teria eficácia contra essas pressões? "Teria sim. O BC precisa sinalizar que a austeridade continua. Só assim irá dissuadir os repasses", diz Rosa. Para a consultoria GRC Visão, o Copom irá moderar a intensidade da alta. Ao invés do ritmo praticado nas seis últimas reuniões, irá diminuir o avanço para 0,25 ponto. Algumas variáveis analisadas pelo Copom autorizam esse novo aumento. São elas, segundo o economista da GRC, Alex Agostini: 1) expectativa de inflação em alta e em patamar elevado em relação à meta; 2) núcleos de inflação acima do teto da meta há algum tempo; 3) alta muito acima das expectativas dos IGPs que, além de aumentar a inércia para 2006, também colabora para uma alta ainda maior nas tarifas de energia daqui a diante, principalmente o reajuste da Eletropaulo em julho que tem peso considerável no IPCA; e 4) cenário internacional ainda incerto, tanto pelo lado do petróleo como, principalmente, pela questão dos juros básicos nos EUA. Se o BC optar pela manutenção da taxa deixará muito claro que o foco é a inflação de 2006. "Nossa previsão de alta de 0,25 ponto destina-se unicamente a antecipar um provável movimento do BC. A nossa opinião é de que não precisaria ocorrer aumento algum, já desde janeiro. O atual aperto monetário é um equívoco", diz Agostini. Para o economista Pedro Paulo Silveira, da corretora Intra, os dados mais recentes sobre o nível de atividade já recomendam uma parada imediata nas altas. Os indicadores estão em linha com o objetivo implícito do aperto monetário de fazer a taxa de crescimento anualizada convergir para os "mágicos" 3,5%, taxa considerada de equilíbrio. Mas o grande problema, alerta Silveira, é que as maiores altas de inflação estão ocorrendo justamente agora. O analista Rodrigo Trotta, da Banif Primus, acredita que o BC não irá parar de subir o juro antes de sinalizar claramente que o fará. É por isso que aposta em elevação de 0,25 ponto. Seria uma alta meramente sinalizadora. Se interrompesse bruscamente o ciclo de altas, poderia incentivar um viés otimista no mercado - o de que a retomada das quedas iria acontecer mais cedo do que o previsto. E isso derrubaria a curva futura de juros. E é ela o que de fato interessa ao BC. O presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef) de São Paulo, Walter Machado de Barros, acredita que o BC "continua perseguindo a meta de inflação deste ano e, diante dos números recentes, vai manter a austeridade e elevar os juros em 0,25 ponto", disse Machado.