Título: Wolfehnson fala de avanços do Bird
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 15/04/2005, Finanças, p. C3

O presidente do Banco Mundial (Bird), James Wolfehnson, disse ontem que uma de suas maiores realizações nos dez anos à frente da instituição foi estimular o combate à corrupção nos países em desenvolvimento. Numa de suas últimas entrevistas antes de deixar o cargo, Wolfehnson contou que o ditador Suharto, da Indonésia, justificava as propinas como um "valor familiar". Pouco depois da entrevista concedida durante a reunião anual do FMI e Bird, o governo americano anunciou que Wolfehnson será o enviado especial dos EUA para a Faixa de Gaza, responsável por acompanhar a retirada de Israel da região. O presidente do Bird em fim de mandato fez novo apelo para que os países desenvolvidos cheguem a um acordo sobre a melhor maneira de aumentar as verbas para ajuda ao desenvolvimento, já que com o volume atual de recursos as metas do milênio de desenvolvimento não serão atingidas. Wolfehnson espera que se chegue a um consenso nesta reunião sobre a melhor maneira de financiar o perdão da dívida de países pobres. Ele lembrou que o orçamento militar mundial é de US$ 1 trilhão anuais e os subsídios agrícolas chegam a US$ 300 bilhões. Aumentar o total de contribuições do patamar atual de 0,25% do PIB dos países ricos para 0,5% representaria um aumento de US$ 50 bilhões a US$ 60 bilhões nas despesas com ajuda. "Acho que já se sabe que as metas de redução de pobreza podem ser atingidas por causa da China e Índia, mas se você olhar a África e outras regiões problemáticas, estamos piorando", disse. A redução do índice de pobreza extrema em 2015 à metade do que era em 2000 foi acertada por chefes de Estado numa reunião em Monterrey, México. Wolfehnson disse que hoje os países em desenvolvimento concordam com a necessidade de combater a corrupção, assunto pouco discutido há alguns anos. "Há dez anos não se podia ir a um país e discutir corrupção, não era fácil. Na minha primeira viagem à Indonésia, o presidente Suharto me disse que a corrupção não era aquilo que eu pensava, que a corrupção era um ´valor familiar´. Eu achei aquilo divertido e aterrorizante", disse. O presidente do Bird citou ainda progressos na Nigéria, considerado um dos países mais corruptos do mundo. "O presidente Obasanjo e o ministro das Finanças estão confrontando a corrupção e sendo transparentes com o orçamento", avaliou. O presidente do Bird também considera ter avançado em questões como a maior abertura do banco a críticas externas, maior contato com a sociedade civil, menor burocracia e mais influência dos países interessados na aprovação de empréstimos. Apesar de admitir ter tido diferenças no passado com o futuro presidente do Bird, Paul Wolfowitz, Wolfehnson acredita que o subsecretário de Defesa "não está vindo com uma agenda unilateral". Ele disse ter mantido "horas de discussão" com o novo presidente e que ele seria "louco se aceitasse o cargo sem boas intenções". Wolfehnson reconheceu que há temores em relação ao novo presidente, mas acredita que depois de seis meses ficará claro que Wolfowitz dará uma boa contribuição à instituição. (TB)