Título: Rato recomenda mais reformas para ativar o crescimento do país
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 15/04/2005, Finanças, p. C3

O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo Rato, disse ontem que o Brasil elevará seu potencial de crescimento econômico se fizer reformas para aumentar a competição no sistema financeiro, reduzir a rigidez do orçamento e mudar leis trabalhistas. Rato disse concordar com a decisão do Banco Central de elevar juros nos últimos meses. "Acho que o Banco Central está certo em tentar prevenir as pressões inflacionárias com o aperto monetário no ano passado e início deste ano", avaliou. Perguntado as razões de o Brasil ter taxas de crescimento inferiores às de outros países em desenvolvimento, o diretor do FMI lembrou a influência da desaceleração da economia mundial. Mas ressaltou que a agenda de reformas ajudaria o país a aumentar o "potencial de crescimento" do PIB. "A agenda de reformas é importante, tanto para fazer o setor financeiro mais competitivo, tornar o orçamento mais competitivo e aumentar a criação de empregos com uma reforma trabalhista", disse Rato, afirmando que o país "tem avançado nessas questões". O diretor-gerente do Fundo insistiu sobre a necessidade de a Argentina "adotar uma estratégia que leve em consideração o total da dívida que não foi reestruturado". O FMI pediu que o país adote uma estratégia "realista" em relação à dívida, e o ministro argentino Roberto Lavagna disse durante a reunião do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), no Japão, que o país se sentia "discriminado". O FMI até agora não chegou ainda a uma conclusão sobre se a Argentina poderá voltar a receber recursos do organismo, tendo cumprido a condição expressa no estatuto de "negociação em boa-fé" com credores privados após a moratória. Sobre o processo de perdão da dívida de países pobres, o diretor-gerente do Fundo anunciou que a instituição prefere vender ouro no mercado a meramente mudar o valor contábil das reservas no balanço. O FMI é um dos maiores detentores de ouro do planeta, com 3,2 toneladas métricas do metal precioso. As reservas estão contabilizadas a US$ 9 bilhões, e o valor de mercado é de US$ 45 bilhões. A sugestão de usar as reservas de ouro para cancelar a dívida de países africanos foi dada pelo Reino Unido, mas até agora não houve acordo sobre a proposta na diretoria da instituição. "Se a diretoria tomar essa decisão, deveria ser feita vendendo o ouro no mercado, e não aumentando seu valor contábil, e fazer isso de forma a não desestabilizar o mercado, ou seja, juntar-se formalmente ou informalmente aos acordos feitos pelos bancos centrais para venda de ouro", disse, acrescentando que a maior parte dos países já concordou com essas condições. De qualquer maneira, o cancelamento da dívida de nações pobres com o FMI deveria fazer parte de uma estratégia mais ampla. Apenas 20% da dívida são com organismos multilaterais. O restante é bilateral ou sindicalizado. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, chega hoje a Washington e terá encontros com o diretor-gerente do FMI, com o secretário do Tesouro dos EUA, John Snow, e com o presidente do Bird, James Wolfehnson, além de participar de um seminário econômico.