Título: Desemprego e exportações devem frear a Alemanha
Autor: Desemprego e exportações devem frear a Alemanha
Fonte: Valor Econômico, 06/10/2004, Internacional, p. A-9

Número de desempregados sobe; ritmo das exportações vai cair A economia alemã, a maior da Europa, começa novamente a dar sinais de enfraquecimento, depois de um tímido processo de recuperação iniciado este ano. Dois indicadores divulgados ontem dão a medida dos desafios econômicos que o governo social democrata tem pela frente. Um deles atinge em cheio o centro de uma recuperação sustentável - o emprego, que gera consumo. O outro indica retração das exportações, que têm sustentado, nos últimos meses, a recuperação da Alemanha. A taxa de desemprego no país aumentou em setembro para 10,7%, o maior nível desde fevereiro de 1999, num momento em que a estagnação dos gastos do consumidor fez as empresas buscarem ganhos de produtividade.

Segundo o Departamento Federal do Trabalho, entre agosto e setembro houve aumento de 27 mil no número de pessoas desempregadas. Hoje, o total de desempregados na Alemanha está em 4,45 milhões de pessoas. Desde que o premiê Gerhard Schröder assumiu o cargo, em 1998, 350 mil perderam o emprego. "A Alemanha está definitivamente presa em um círculo vicioso", disse Andreas Rees, economista do HVB Group, de Munique. "Os receios dos desempregados estão reduzindo os gastos, e a ausência de gastos está fazendo com que as empresas reduzam seus gastos com o quadro de funcionários. E não é realista esperar que este ciclo seja interrompido num futuro próximo." O crescimento das filas de desempregados contribuiu para as 13 derrotas que o Partido Social Democrata (PSD) de Schröder sofreu nas 14 últimas eleições locais, regionais e para o Parlamento Europeu, realizadas este ano. Schröder se tornou o primeiro premiê a reduzir os benefícios para os desempregados desde a Segunda Guerra, gerando protestos sobretudo no leste do país. No âmbito comercial, cresce a preocupação da BDI, principal entidade empresarial da Alemanha. Ontem, a organização previu que as exportações do país - que representam um terço do PIB alemão - deverão desacelerar no ano que vem, na esteira da valorização do euro frente ao dólar e da alta nos preços de matérias-primas, que vai retrair a demanda global. Os embarques devem crescer 6% em 2005, uma desaceleração em relação aos 9% estimados para este ano, disse o BDI. A organização representa 107 mil empresas, como Siemens e DaimlerChrysler. A projeção do BDI se baseia em pesquisa que cobre 80% do mercado exportador da Alemanha. "A nova alta do euro em relação ao dólar irá por em risco as exportações alemãs no próximo ano, na medida em que a economia européia tende a crescer de forma mais forte que a americana", disse o BDI em relatório. "Uma alta adicional nos preços de matérias-primas poderia minar o crescimento global." As exportações alemãs cresceram 3,2% no segundo trimestre em relação ao primeiro, o que levou a uma recuperação da economia depois da recessão de 2003. O crescimento econômico do Japão e dos EUA - as duas maiores do mundo - desacelerou no mesmo período, suscitando temores de que os embarques não serão capazes de sustentar a recuperação alemã. Para o BDI, as empresas alemãs sentem o peso das altas nos preços do petróleo, aço e borracha. As matérias-primas industriais tiveram ganho de 15% desde agosto do ano passado, enquanto que as associados a energia aumentaram 33%.