Título: Dilma vira fiel da balança
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 05/03/2010, Política, p. 5

Executiva Nacional do PT descarta prévias estaduais para definir quem vai disputar vagas no Senado. Decisão caberá à pré-candidata ao Palácio do Planalto

Intenção é que a ministra Dilma tenha o poder de espantar os entraves que complicam os acordos regionais

Candidatos ao Senado pelo PT, só com o aval da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Essa é a ordem dentro do partido que ontem reuniu sua Executiva Nacional em Brasília para discutir veto à realização de prévias entre pré-candidatos. A decisão, que deve ser chancelada pelo Diretório, é uma forma de conter desgastes e de colocar a pré-candidata na linha de frente de negociações regionais. A intenção é também dar mais tempo para as desavenças serem resolvidas nos estados.

O presidente do partido, José Eduardo Dutra, propôs 6 de junho como prazo para a apresentação da chapa de candidatos e acabar com datas intermediárias nas negociações. O entendimento é que as instâncias menores estavam engessadas para tomar as decisões. A ideia, na prática, reduz a pressão nos locais onde há fricções para encontrar os nomes que disputarão as eleições de outubro. A flexibilização também passará pelo crivo do Diretório Nacional, em reunião marcada para hoje.

A disputa interna pela indicação às candidaturas ao Senado ocorre em Mato Grosso, em Pernambuco e no Rio de Janeiro. Como o PT não lida bem com prévias por avaliar que elas são desastrosas para a unidade do partido na campanha, a Executiva orientou a busca por consenso. Além da negociação entre os pré-candidatos, a proposta é colocar a ministra Dilma para negociar os acordos e escolher quem ela perceber mais competitivo e agregador ao projeto nacional.

¿É uma decisão que deve ser tomada com base no desempenho dos pré-candidatos e consultando a nossa candidata para saber qual estará mais afinado para fortalecer a campanha presidencial e não o contrário. Nós não podemos eleger um senador e não eleger o presidente da República¿, disse o líder do PT na Câmara, Fernando Ferro (PE), após a reunião da Executiva.

Cabo de guerra

Em Pernambuco, o clima é tenso entre o ex-ministro Humberto Costa e o ex-prefeito de Recife João Paulo Lima e Silva. A história se repete no Rio de Janeiro, que colocou em lados opostos a ex-governadora Benedita da Silva e o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias. Em Mato Grosso, a disputa está entre a senadora Serys Slhessarenko e o deputado Carlos Abicalil.

No Rio, o grupo que defende a indicação de Lindberg lembra que as passagens de Benedita pelo Executivo federal e pelo governo estadual foram desastrosas. À frente da Secretaria Nacional de Assistência e Promoção Social, usou dinheiro público, depois ressarcido, para participar de evento religioso na Argentina, o que lhe custou o cargo. No estado, a petista é criticada por ter feito uma gestão temerária em Segurança Pública. O prefeito passou a pleitear o Senado depois de entrar numa disputa interna para se lançar contra o governador Sérgio Cabral (PMDB), que é mais próximo de Benedita, o que pode lhe ser favorável.

Outro quesito na escolha dos candidatos, segundo os petistas, é a opinião dos aliados. Em última instância, caso a radicalização torne o acordo improvável, a questão chegará à mesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É o caso de Minas Gerais, onde o grupo do ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel e o do ministro de Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, estão em pé de guerra para saber quem deve ser o pré-candidato ao estado. O presidente estadual da legenda, Reginaldo Lopes, aliado do ex-prefeito, disse estar convencido de que o PT tenha candidato próprio e não ceda a vaga a um nome do PMDB, em especial o ministro das Comunicações, Hélio Costa.

Já o ex-ministro Nilmário Miranda, aliado de Patrus, defende o acordo com os peemedebistas e entende que Pimentel saia para disputar uma vaga à Câmara dos Deputados para ter mais tempo de liderar a coordenação de campanha de Dilma ao Palácio do Planalto.

TSE MANTÉM KASSAB NO CARGO O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), conseguiu se livrar de uma das pendências jurídicas que podem resultar no seu afastamento do cargo. Ontem, a ministra do Tribunal Superior Eleiroral (TSE) Cármen Lúcia Antunes Rocha negou recurso apresentado pela coligação Uma Nova Atitude para São Paulo, que pedia a cassação do prefeito reeleito. Na ação, os partidos alegavam suposta prática de abuso de poder político e econômico nas eleições de 2008.

Texto estratégico

Documento da Executiva Nacional do PT a ser apresentado no encontro de hoje do Diretório Nacional mostra preocupação com os impasses nos estados e os efeitos que podem ter na campanha da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. ¿É preciso debate e ajustes para que as questões regionais não atrapalhem o plano nacional¿, disse o líder do PT, Fernando Ferro (PE).

O texto cita a evolução da pré-candidata petista nas pesquisas de intenção de votos e pede que o partido não seja contaminado pelo clima de ¿já ganhou¿. Essa avaliação é acompanhada por um comentário sobre a ¿confusão¿ da oposição na indefinição da escolha de seu candidato e na falta de orientação da campanha.

O documento refere-se à afirmação do presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), de que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) será extinto se os tucanos vencerem a eleição. E à proposta aprovada pela Comissão de Educação do Senado que criou um novo benefício ao Bolsa Família. ¿Eles estão confusos no eixo programático¿, disse Ferro. Por fim, o documento do PT faz uma crítica à imprensa por fazer cobertura desequilibrada para tentar desmoralizar o PAC e as ações do governo de Lula. (TP)