Título: Sindicatos também querem salvaguardas contra China
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 19/04/2005, Brasil, p. A4
Os sindicatos estão se unindo aos empresários para pressionar o governo pela regulamentação de salvaguardas específicas contra a China. A iniciativa está sendo capitaneada pela Força Sindical e por sindicatos patronais ligados à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). "Resolvemos unir forças para demonstrar às autoridades que a salvaguarda é necessária, porque ninguém tem condições de concorrer com a China", afirma Eunice Cabral, presidente do Sindicato das Costureiras e Trabalhadores da Indústria do Vestuário de São Paulo e Osasco. Empresários e trabalhadores também planejam iniciar uma campanha para mostrar ao consumidor brasileiro que a compra de produtos chineses pode provocar desemprego no Brasil. A parceria entre o setor privado e os sindicalistas foi selada durante uma reunião na Força Sindical na última sexta-feira. Um novo encontro na próxima semana decidirá qual será a estratégia adotada para convencer o governo federal a regulamentar as salvaguardas. Participaram do encontro de sexta-feira os setores mais sensíveis às importações chinesas: têxtil, calçados e brinquedos. Esses setores são intensivos em mão-de-obra. Segundo estudo elaborado pela Fiesp, as importações brasileiras de produtos industriais chineses aumentaram 82,8% em 2004. O setor de brinquedos já aplica uma salvaguarda de 9% para os produtos importados de todos os países. Ao entrar na Organização Mundial de Comércio (OMC), a China aceitou que os demais países-membros aplicassem uma salvaguarda específica contra seus produtos. Para isso, os países precisam regulamentar esse mecanismo de defesa comercial em sua legislação interna. A Fiesp vem pressionando o governo pela regulamentação das salvaguardas, mas até agora não foi atendida. O Ministério do Desenvolvimento optou por monitorar os fluxos de comércio e informou que ainda não encontrou nenhum problema. Uma fonte do setor privado paulista acredita que o governo Lula será mais sensível se os sindicatos também estiverem pedindo a adoção das salvaguardas. Segundo fontes do setor privado, o governo reluta em regulamentar o mecanismo, porque isso poderia ser um sinal negativo para a China, considerada uma parceira comercial estratégica. Politicamente, essa questão também está relacionada ao reconhecimento da China como economia de mercado feita pelo governo brasileiro no ano passado. O presidente Lula prometeu, mas o novo status também não foi regulamentado internamente. O reconhecimento da China como economia de mercado irritou o empresariado. Segundo Rafael Cervone, presidente do Sinditêxtil - SP, os empresários estão pressionando o governo para voltar atrás nessa decisão e para regulamentar as salvaguardas contra a China. "A salvaguarda permitirá uma certa isonomia. Os chineses conseguem empréstimos mais baratos, possuem uma taxa de câmbio artificialmente desvalorizado e muitos de seus produtos são contrabandeados para entrar no Brasil", diz.