Título: Protesto continua, mas para diplomatas crise no Equador se acalmou
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 19/04/2005, Internacional, p. A11

Os protestos contra o presidente Lúcio Gutiérrez continuaram ontem no Equador, mas diplomatas sul-americanos acreditam que ele deve se manter no cargo. A crise no Equador chegou a ser tratada, mas apenas informalmente, ontem em Brasília, no primeiro dia da reunião de chanceleres da Comunidade Sul-Americana, que prossegue hoje, com a divulgação de um comunicado conjunto dos responsáveis pelas políticas externas dos países do continente. Nas conversas informais, diplomatas dos países da América do Sul concluíram que há forte possibilidade de que a crise equatoriana tenha solução doméstica. Ou, como definiu um diplomata, o país não exige cuidados imediatos, porque o "paciente" não apresenta mais "febre". A "febre", na metáfora, foi a crise institucional provocada pela decisão do presidente Gutiérrez, de dezembro, mudar a composição da Suprema Corte, que em seguida revogou acusações contra ex-presidentes acusados de corrupção. Isso provocou manifestações de rua na capital equatoriana, Quito. A decisão de Gutiérrez de voltar atrás e destituir a Suprema Corte atual, com a aprovação da dissolução pelo Congresso, no domingo, teriam normalizado a temperatura do "paciente", na avaliação de diplomatas sul-americanos. As declarações feitas por Gutiérrez a agências de notícias admitindo aceitar um referendo popular sobre seu mandato contribuíram para melhorar o clima político. Entre os diplomatas que trocaram impressões ontem sobre o assunto, há a idéia de levar o tema à Organização dos Estados Americanos (OEA), que interveio recentemente na crise institucional da Bolívia, onde também se ameaçou o mandato do presidente da República. Países com postos na direção da OEA foram consultados, mas prevaleceu a opinião de que ainda não é hora de intervir, nem mesmo com algum comunicado sobre a crise. O governo brasileiro também prefere observar os desdobramentos da situação, que parece estar a caminho de uma solução, na avaliação de assessores do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.