Título: Ano será bom para vendas e lucros, dizem empresários
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Fonte: Valor Econômico, 19/04/2005, Especial, p. A14

O ano de 2005 também será bom. Para algumas empresas, vai ser, de novo, muito bom. Para outras, a explosão de 2004 não será repetida, mas será outro ano de crescimento. Essa é a percepção revelada, ontem, pelos profissionais que receberam o prêmio "Executivo de Valor", em solenidade no hotel Unique. A expectativa de mais um ano de crescimento do faturamento e dos lucros tem uma tripla âncora, apesar do dólar em R$ 2,60. Empresas que vendem para o mercado interno contam com a manutenção da recuperação da renda e do emprego. Quem exporta ainda espera reação do câmbio ou conta com os preços em alta no exterior. E as empresas que adotaram como política um ajuste de custos permanente esperam colher bons frutos desta opção. No horizonte, alguns riscos preocupam, como o impacto das recentes altas do aço e do petróleo sobre os custos internos. Menos presente, mas sempre lembrado, está o risco de alguma turbulência mais forte no mercado externo. Rubens Ometto Silveira Mello, presidente do Grupo Cosan, acredita que 2005 será um ano ainda mais rentável para sua companhia e para o setor de açúcar do que 2004. Ele avalia que os preços da commodity devem voltar a atingir o pico de 9,5 centavos de dólar por libra-peso registrado no ano passado. Além disso, os preços do álcool tendem a ser mais compensadores do que em 2004 Na avaliação de Pedro Luiz Passos, co-presidente do conselho de administração da Natura, 2005 será um ano "tranqüilo". Ele acredita que o setor de cosméticos será capaz de repetir neste ano a boa performance registrada em 2004. No ano passado, as vendas de cosméticos no país aumentaram cerca de 10% em termos reais (descontada a inflação), estimuladas pela recuperação da renda e da confiança do consumidor. A expectativa é de novo aumento real do setor de cosméticos entre 8% e 10% em 2005. Passos acredita que a calmaria só será perturbada por alguma complicação no cenário externo. O presidente da Companhia Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, conta com o "momento positivo do mercado". "A Vale do Rio Doce está aumentando a produção, o preço é bastante favorável, nós estamos com disciplina muito forte em custos. Então, 2005 poderá ser um tão bom ou melhor que 2004", diz ele. A Schincariol fechou 2004 com lucro de R$ 80 milhões - o primeiro resultado azul depois de alguns anos no vermelho. A empresa conseguiu essa reviravolta com redução de custos, investimento na marca e aumento do valor agregado do seu produto. Adriano Schincariol, presidente da companhia, estima que é possível elevar os lucros em 15% em 2005. "Investimos 100% na cerveja. Acreditamos no negócio sem nos preocupar com fatores macroeconômicos", diz. Schincariol reconhece também que as vendas do setor de bebidas estão intimamente ligadas à recuperação da renda da população. Dessa forma, a melhora no nível de emprego pode ajudar a aumentar as vendas de cerveja em 2005. Sem contar com as exportações para ajudar em seus resultados, a construtora Matec projeta um 2005 melhor do que o ano passado com o crescimento da demanda por obras no mercado interno. "Pelo o que temos visto até agora, este ano será melhor", explica Luiz Augusto Milano, presidente da Matec. No primeiro trimestre de 2005, a empresa conquistou R$ 780 milhões em contratos, enquanto em 2004 foram R$ 600 milhões. Além de um faturamento maior, a empresa espera a manutenção da sua lucratividade. O problema, segundo Milano, virá da pressão dos preços de seus dois principais insumos: aço e cimento, que subiram 20% e 13% respectivamente até agora. Caso os preços continuem a subir, o presidente da Matec não sabe se conseguirá manter sua margem. Empresas que atingiram um resultado excepcional em 2004, como as do setor siderúrgico, não contam com a repetição dos mesmo percentuais expressivos do ano passado. Para o empresário Jorge Gerdau, vai ser difícil repetir neste ano os resultados e rentabilidade de 2004. "O ano passado foi muito atípico para a siderurgia em todo o mundo", afirmou. Ele disse que os mercados mantêm neste início de ano um ritmo semelhante ao de igual período de 2004, mas ele pode não se sustentar. Segundo Gerdau, a demanda interna na sua área de atuação - aços para a construção civil, agropecuária e indústria - já traz sinais de desaceleração. O presidente da Microsoft Brasil, Emílio Umeoka, acredita que o segmento deve crescer pouco mais de 6% este ano frente a um crescimento de 20% no ano passado. "O desempenho de 2004 foi muito acima da média, depois de quase três anos de estagnação", diz Umeoka. Apesar de muito menor que o do ano passado, a estimativa de crescimento para este ano (em torno de 6%) é a média de desempenho do setor nos últimos anos. Já o presidente da IBM no Brasil, Rogério Oliveira, está otimista com o desempenho do seu setor neste ano. "Apesar da enorme competitividade e de 2004 ter sido um ano excepcional, acredito que há todas as chances de repetirmos este ano o desempenho do passado", disse ele. De qualquer forma, ele lembra que a tarefa é bastante difícil, já que 2004 foi um ano muito bom e o mercado de tecnologia vive um momento de superoferta com margens muito apertadas. Apesar da elevação dos juros, Samuel Klein, diretor da Casas Bahia, afirma que a demanda por crédito não foi abalada. "Estamos estendendo os prazos das prestações. O que era vendido em 10 meses esticamos para 12 vezes", diz Klein, que mantém a previsão de abrir mais de 70 lojas este ano. "Quanto à rentabilidade, acreditamos poder repetir, pelo menos, o percentual do ano passado", disse. Manoel Amorim, diretor-geral da Telesp não está tão otimista em relação a 2005. "Neste ano, para o setor repetir a rentabilidade de 2004, será preciso se mexer bastante", avalia. Segundo o executivo, ainda não está claro se o setor de telecomunicações poderá aplicar os reajustes de tarifas previstos. Ele afirma que o primeiro reajuste do ano já está atrasado dois meses. Outro empresário do setor de serviços está bem mais otimista. Desde janeiro, o hotel Fasano opera com sua ocupação máxima, o que leva Rogério Fasano a prever que este será um ano rentável. Mas nada comparável aos lucros de 20 anos atrás. "Este ainda será um ano de consolidação", diz o empresário, que, mesmo assim, não deve parar de investir.